A FACE DA CRUELDADE
Cristian Luis Hruschka

Lançado em 2013 com primeira reimpressão em 2014, “O
Carrasco de Hitler”, do escritor Roberth Gerwarth, conta a história de Reinhard
Heydrich, oficial da SS alemã e um dos responsáveis pela chamada “solução
final” que pretendeu por fim ao judeus de toda a Europa durante a Segunda Guerra Mundial.
Sua vida é repleta de acontecimentos que marcaram sua
personalidade para o mal, para a crueldade sem medida, voltada ao extermínio de
minorias como ciganos, homossexuais, padres formadores de opinião, maçons e
especialmente judeus, culpados pela miscigenação do mundo e, portanto,
responsáveis pelas modificações da raça ariana, que tinha os nórdicos como
modelo: altos, louros e de olhos azuis.
Heydrich foi o segundo homem na SS (Sicherheitsdienst), entidade paramilitar
inicialmente responsável pela repressão política do regime nazista e que
posteriormente se tornou tão grande ao ponto de ser mais importante que o
próprio exército alemão. Hitler era um entusista do serviço prestado pela SS, que
tinha na pessoa de Heinrich Himmler seu maior representante. Heydrich, porém,
era seu maior destaque no que diz respeito ao extermínio dos judeus e de todos
aqueles contrários ao Terceiro Reich, atividade à qual a SS se dedicou quase
que exclusivamente por ocasião do final da guerra.
O livro de Gerwarth, ricamente ilustrado com mapas e
fotografias, começa narrando a morte de Heydrich em um atentado na cidade de
Praga, atual República Tcheca, local onde exercia a função de protetor do Reich
da Boêmia e Moravia. Sua morte ocorreu em junho de 1942, três anos antes do término da II Guerra
Mundial, tendo sido morto num ataque à bomba ao carro em que estava. Heindrich,
também conhecido como o “Açougueiro de Praga”, foi morto por dois tchecos da
resistência. Ainda que não tenha morrido na explosão, os estilhaços da bomba em
seu corpo resultaram numa infecção na cavidade estomacal. Como não havia
penicilina na época, a morte foi questão de tempo.
Seu velório foi o maior de todo o regime nazista e as
represálias e retaliações de Hitler não tardaram. Como castigo e vingança ao povo tcheco, numa demonstração de poder e dominação pelo medo, o Führer determinou “a
aniquilação completa do povoado boêmio de Lídice, incluindo o assassinato de
todos os habitantes homens e a deportação de todas as mulheres para campos de
concentração.” (pág. 317). Por essa demonstração de força já se verifica a enorme perda
para os nazistas com a morte de Heydrich, retratado por Goebbels, este responsável
pela propaganda do Reich, como o “nazista ideal”.
Filho de renomado músico alemão, Heydrich nasceu em uma
família de classe média. Não passou dificuldades na infância e gozava de boa
vida. Seu temperamento, porém, desde o início estava voltado para a maldade e crueldade. Ambicioso e muito disciplinado, entrou para a Marinha alemã
com pouca idade, sendo, no entanto, dispensado por ter rompido um noivado em
virtude de outro relacionamento. Em 1931 ingressou no partido nazista e
posteriormente na SS, organização praticamente insignificante na época. Casado
com Lina Von Osten, de tradicional família ligada ao nazismo, familiarizou-se
com o regime que então iniciava sua ascensão na Alemanha e se tornou fiel
admirador de Hitler, que tomou o poder no início de 1933.
Crescendo de forma rápida dentro dos quadros da SS, Heydrich
ficava cada vez mais obcecado pela necessidade de germanizar a Europa, cujo
povo alemão era o exemplo da raça mais adaptada para criar um mundo melhor,
“livre de qualquer influência de sangue mestiço ou judeu” (pág. 89).
A SS, porém, não estava na linha de frente de batalha, cuja
responsabilidade era do exército alemão e, portanto, não participou ativamente
do front (ainda que Heydrich tenha feito algumas incursões como aviador), em especial da tentativa nazista de tomar Moscou, evento responsável
pela queda do império nazista. Com efeito, exercia sua atividade de repressão
dentro do território tomado pelos alemães, em especial Áustria, primeiro país a
ser anexado ao Reich, posteriormente na Tchecoslováquia e Polônia, este
último um país completamente dominado pelos alemães e local onde foram criados
diversos guetos e campos de concentração e extermínio.
Assim, Heydrich gozava de todo o seu tempo para colocar em ação práticas visando o aniquilamento do povo judeu, abusando da
violência e exigindo “a supressão de emoções e o cultivo da insensibilidade, da
dureza e da falta de piedade para com todos os adversários” (pág. 101). Nessa campanha de “limpeza”, Heydrich
promoveu inúmeras deportações de judeus para diversos territórios ocupado pelos
alemães ou encaminhando-os para guetos específicos. Porém, com a tomada de
novos países, aumentava o número de judeus na área de domínio alemão, ainda que a SS não medisse esforços para matá-los ou deixar morrerem em razão das péssimas
condições que eram transportados, viviam ou tinham de prestar serviços
forçados.
A política antissemita de Heydrich também buscou enriquecer
os cofres do Reich, visto que todas as propriedades dos judeus passavam a ser
do governo alemão, verdadeiro ato de confisco. As execuções se tornaram cada
vez mais frequentes e quando a União Soviética começou a ser invadida na
conhecida “Operação Barbarossa”, Heydrich recebeu ordens do Führer, por
intemédio de Göring, para rascunhar um “projeto de solução final”, cujo próximo
passo seria a germanização dos territórios ocupados. Inicialmente foi defendida
a ideia de guetização e expulsão, somente ao final da guerra sendo praticado o genocídio nos campos de extermínio, já após a morte de Heydrich.
Em setembro de 1941 Heydrich assumiu o Protetorado da Boêmia
e Morávia, substituindo o moderado Neurath, para implantar um regime de terror,
com perseguições e execuções, tudo no intuito de “pacificar” os tchecos.
Inicialmente desarticulada, a resistência ganhou força com o
passar do tempo, culminando na morte do austero, bárbaro e desumano Reinhard
Heydrich, de cujo Protetorado somente 14 mil judeus sobreviveram após a guerra.
Particularmente, li o livro com muito cuidado e atenção,
visto que em pesquisas genealógicas que realizei encontrei muitas pessoas com o sobrenome da minha família que tiveram o trágico fim colimado pelos nazistas. Morreram
quando eram transportados para “locais desconhecidos”, provavelmente para serem
mortos nas famigeradas câmaras de gás em campos de extermínio, inclusive
Auschwitz, conforme comprova a pesquisa que fiz junto ao Yad Vashem, maior
instituto mundial de memória às vítimas do holocausto. Quem quiser pode conferir se também teve familiares mortos, basta acessar http://db.yadvashem.org/names/search.html?language=en.
Por fim, vale destacar o profundo trabalho de pesquisa realizado sobre a personalidade maléfica do biografado e do ambiente em que viveu, um dos piores de toda a história da humanidade. Infelizmente Heydrich não deixou nada de bom para as gerações futuras, apenas um rastro de destruição e matança, porém, fica clara a certeza de que a maldade não tem limites, onde pessoas são mortas por credos, etnias e convicções diferentes, motivos estes que deveriam aproximar os povos e jamais diferenciá-los.
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CRISTIAN LUIS HRUSCHKA, responsável pelo site www.resenhas-literarias.blogspot.com.br. É autor do livro "Na Linha da Loucura", publicado em 2014 pela editora Minarete/Legere (www.facebook.com.br/nalinhadaloucura). E-mail: clhadv@hotmail.com
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ResponderExcluirJa li quase tudo sobre a segunda guerra mundial - mais ate hoje ainda nao consigo entender o que passava pela cabeça destes malucos nazistas
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