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"Einstein no Espaço-Tempo", Samuel Graydon

BREVE HISTÓRIA DE UM GÊNIO

Cristian Luis Hruschka



GRAYDON, Samuel. Einstein no Espaço-Tempo: a vida de um gênio em 99 partículas, Rio de Janeiro: Sextante, 2024, 304 páginas (Tradução: André Fontenelle).

 

“Eu quero minha paz. Quero saber como Deus criou o mundo. Não estou interessado neste ou naquele fenômeno, no espectro disto ou no elemento daquilo. Quero saber o que Ele pensa, o resto são detalhes” (Albert Einstein)

 

Muito já se escreveu sobre o gênio da física e dificilmente alguma biografia conseguirá esmiuçar de maneira detalhada toda a vida de Albert Einstein (1879-1955). O livro de Samuel Graydon certamente não tem essa pretensão, porém, apresenta uma viagem deliciosa sobre a jornada desse importante cientista.

O livro é dividido em 99 capítulos curtos e objetivos, que não respeitam, necessariamente, uma ordem cronológica definida.

Contudo, como não poderia ser diferente, começam com o nascimento e crescimento de Einstein, assim como seu difícil início profissional.

Ao contrário do que muitos pensam, Einstein não foi um aluno brilhante em matemática, porém, detinha uma habilidade espetacular para analisar proposições e desenvolver estudos inovadores.

Paralelo a isso, sua vida pessoal era bastante conturbada, não sendo um marido e pai presente, pelo contrário.

Albert Einstein teve diversos relacionamentos amorosos em sua vida, e manteve muitos casos extraconjugais. Essa fama de mulherengo normalmente não é lembrada, quanto mais sua ausência afetiva com relação aos filhos.

Já em 1902, com 23 anos, teve uma filha, chamada Lieserl, com sua então namorada (Mileva) e, por conseguir um emprego no Escritório de Patentes da Suíça, manteve em segredo a criança. Até hoje não se tem notícias sobre o destino dela. Não sabemos se morreu ou foi entregue em adoção, apenas se tem notícia de que Einstein e Mileva simplesmente “apagaram a filha da história” (pág. 59). Com o filho Eduard não foi muito diferente e, após o mesmo apresentar sinais de doença mental, chegando a passar um período no hospício de Zurique para tratamento de esquizofrenia, menos contato passou a ter com ele, deixando de visita-lo na Suíça e não querendo ter notícias do filho.

O livro ainda aborda a difícil caminhada de Einstein para se tornar um professor de respeito. Quanto a sua maneira de lecionar, Graydon relata:

”Os alunos de Einstein na Universidade de Zurique não ficaram impressionados com o desgrenhado novo professor. Ele usava calças curtas, um relógio com pulseira de latão e não levava anotações para a aula, apenas um pedacinho de papel do tamanho de um cartão de visitas, coberto de rabiscos e garranchos. Seu estilo de lecionar também não ajudava a angariar admiração. Einstein gaguejava durante as aulas, aparentemente pensando no que dizer à medida que avançava.

[...]

Rapidamente foi conquistando os alunos, que logo se deram conta de que as sacadas estranhas dele, em relação ao método de raciocínio científico, eram muito melhores que um monólogo erudito. Era um privilégio testemunhar Einstein desenvolvendo suas ideias durante a aula. Eles podiam ver seus métodos e sua técnica de trabalho, em vez de ser apresentados a uma maravilhosa e acabada caixinha de verdades que ninguém saberia como demonstrar” (Pág. 97)

Mudando constantemente de moradia, residiu na Alemanha, Suíça e Bélgica, foi nos Estados Unidos que permaneceu a maior parte de sua vida, firmando-se como catedrático da renomada universidade de Princeton, quando já era famoso e reconhecido por onde passava.

Einstein também era um grande músico, apaixonado pelo seu violino, que o acompanhava com habitualidade. Sempre convidado para jantares, premiações e palestras, manteve contato com rainhas, escritores, políticos e outras pessoas de renome na época, como Charles Chaplin e Marie Curie, prêmio Nobel de Física em 1903. Também conheceu Freud, mesmo não sendo fã da psicanálise e, em determinada ocasião, esteve no mesmo jantar que Franz Kafka, ainda que nenhum tenha escrito nada sobre o outro em sua vida.

Com frequência se correspondia com outros professores e cientistas, mantendo constante atualização sobre as novas descobertas. A troca de correspondência também ocorria com as mulheres de sua vida, sendo que em uma carta encaminha à Elsa, então sua esposa, disse que se entregaria à morte com o mínimo de assistência médica e que iria pecar conforme o desejo de seu “coração impuro”. Em outra carta descreveu sua curiosa dieta:

“fumar como uma chaminé, trabalhar como um cavalo, comer sem pensar e escolher sair para caminhar apenas em companhia realmente agradável e, portanto, só raramente [...], dormir em horários irregulares” (pág. 114).

Todos esses episódios da vida de Albert Einstein são contados de forma simples e direta, sendo agradável a leitura. Questões mais técnicas da física não são relatadas de maneira cansativa. O autor não se estende em explicações complexas sobre gravidade, relatividade e outros temas, fato que permite ao leigo uma melhor compreensão do universo do físico alemão.

Por outro lado, explora a defesa de Einstein ao povo judeu, sua ojeriza ao governo nazista que se instalava na Alemanha e a guerra posterior, chegando a procurar a embaixada alemã em Bruxelas para entregar seu passaporte e renunciar a cidadania alemã. Também renunciou sua cadeira na Academia Prussiana de Ciências e no ano de 1943 foi oficialmente declarado “não alemão”.

Segundo Graydon,

“Albert dera aos nazistas todos os motivos para odiá-lo – além dos óbvios, como ser judeu, internacionalista, pacifista e famoso.” (Pág. 203)

Quanto a esse tema, o livro informa que Einstein era contra a guerra, que em nenhum momento trabalhou pela bomba atômica, pelo contrário, lamentava a existência de armas nucleares:

“Depois de completar seu trabalho sobre a relatividade geral, sua defesa da paz passara a ocupar um papel tão importante em sua vida quanto a ciência.” (Pág. 211)

Fato é que Albert Einstein foi um divisor de águas na ciência, assim como Issac Newton (1643-1727) havia sido. Seus estudos são avaliados até hoje pelos cientistas modernos, angariando defensores e adversários. Faleceu em 18/04/1955 em decorrência de um aneurisma. No seu sepultamento compareceram apenas 12 pessoas. Durante a autópsia todos seus órgãos foram retirados e depois recolocados no corpo, menos um, o cérebro. Recortado em 240 pedaços, foi conservado pelo patologista responsável pela autópsia e distribuído para pesquisadores pelos quatro cantos do mundo.

CRISTIAN LUIS HRUSCHKA, professor e advogado. Autor do livro "Na Linha da Loucura", Ed. Minarete/Legere (www.facebook.com.br/nalinhadaloucura). E-mail: clhadv@hotmail.com.

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