
UM POUCO DE SABINO E SUA OBRA
Cristian Luis Hruschka
O HOMEM NU, Fernando Sabino, 38ª. ed., Rio de Janeiro: Ed. Record, 1998, 192 p.
Conheci a obra de Fernando Sabino (1923-2004), em dezembro de 2006. Até então só tinha ouvido falar de seus livros sem ter me arriscado a ler algum deles. Bendita hora em que comprei “A Faca de dois Gumes” (Ed. Record, 2005), na praia, em uma banca de revistas. Foi paixão à primeira vista, ou melhor, à primeira leitura.
O livro é maravilhoso, composto das novelas “O Bom Ladrão”, “Martini Seco” e “O Outro Gume da Faca”. Uma trilogia prodigiosa que leva o leitor a duvidar do certo e do errado, colocando-o no lugar dos personagens e ao mesmo tempo censurando suas atitudes. Li o livro em uma pegada. Dias após retornei à mesma banca de revistas para comprar “O Encontro Marcado”, livro mais importante da obra de Fernando Sabino, traduzido para diversos idiomas pelo mundo afora e que já ultrapassa a 80ª. edição aqui no Brasil. Não tinha mais jeito, tornei-me um escravo de sua prosa.
O ano de 2007, para mim, foi o “Ano de Fernando Sabino”. Comprava o que aparecia, livros novos e usados, chegando a encontrar a segunda edição de “A Vida Real”, em um sebo da cidade. Livro raro, ainda mais se levarmos em consideração que a primeira edição teve apenas 500 exemplares. Nessas incursões, deparei com “O Homem Nu”, livro que agora me proponho a apresentar.
Trata-se de uma coletânea de contos, sendo o mais famoso aquele que empresta nome ao livro. Além deste destaco “Dona Custódia”, no qual um senhora dócil e simpática se utiliza do apartamento em que trabalha como diarista para reunir suas amigas para lanches e cafés vespertinos. Ocorre que ela se faz passar por dona do imóvel, sempre, claro, às escondidas do verdadeiro proprietário. Numa bela tarde, é surpreendida com as amigas pelo rapaz limitando-se a dizer para as colegas que aquele era o menino que alugava o quarto dos fundos. Também vale a leitura o conto “Macacos me Mordam”, onde um cientista do interior de Minas Gerais solicitou a um outro colega, residente em Manaus, a remessa de “1 ou 2 macacos”. Porém, foi surpreendido com a resposta de seu amigo informando que a remessa dos primeiros 600 macacos já tinha sido feita e que estaria mandando os outros posteriormente. É que por um erro do telégrafo, ao invés de transmitir “1 ou 2 macacos” foi trasmitido “1002 macacos”. Era macaco para todo lado, na escola e no sino da igreja. Maior ainda foi a surpresa do cientista mineiro ao receber o segundo telegrama vindo de Manaus: “Seguiu resto encomenda”. O conto “Anjo Brasileiro” igualmente é delicioso ao narrar a enrascada em que se meteu um espanhol radicado no Brasil ao dizer ter recebido a visita de um anjo e que este teria lhe confirmado a data de sua própria morte. No dia e hora marcados todos compareceram, os curiosos de plantão e a imprensa. Mas só lendo para você saber se ele morreu ou não.
Fato é que qualquer livro de Fernando Sabino é gostoso de ler. Sua forma de escrever encanta pela simplicidade e precisão, nunca abusando das palavras e utilizando-as sempre de maneira objetiva e eficiente. Os diálogos prendem o leitor e sua capacidade para narrar acontecimentos rotineiros surpreende, sendo ele um grande observador da vida e hábitos das pessoas, muito à frente de autores que se dispõem a esse propósito nos dias atuais, tal como Luis Fernando Veríssimo, famoso pelas suas crônicas da vida privada.
Fernando Sabino é mineiro de Belo Horizonte. Viveu boa parte da vida no Rio de Janeiro. Formado em direito, chegou a ser Adido Cultural junto a embaixada do Brasil em Londres no governo de João Goulart (1964). Jornalista, romancista, cronista, cineasta, foi amigo de Vinícius de Morais e Clarice Lispector. Também se correspondia com Mario de Andrade, cujas cartas resultaram no livro “Cartas a um Jovem Escritor e suas Respostas”. Teve textos adaptados para o teatro e cinema e com Rubem Braga fundou a Editora do Autor e posteriormente a Editora Sabiá. Viajou pelo mundo e jamais esqueceu de seus amigos inseparáveis: Otto Lara Resende, Paulo Mendes Campos e Hélio Pellegrino, com os quais formava um quarteto sensacional. Entre seus livros se destacam: “O Encontro Marcado”, “A Cidade Vazia”, “O Grande Mentecapto”, “O Menino no Espelho”, “O Homem Nu”, “A Falta que Ela me Faz”, “A Volta por Cima”, “Com a Graça de Deus”, entre inúmeros outros.
Sabino faleceu em 11 de outubro de 2004, um dia antes de completar 81 anos de idade. Em sua lápide no cemitério São João Batista, zona sul do Rio, está escrito: “Aqui jaz Fernando Sabino, que nasceu homem e morreu menino”.
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CRISTIAN LUIS HRUSCHKA, responsável pelo site www.resenhas-literarias.blogspot.com.br. É autor do livro "Na Linha da Loucura", publicado em 2014 pela editora Minarete/Legere (www.facebook.com.br/nalinhadaloucura). E-mail: clhadv@hotmail.com
olá!
ResponderExcluirestou precisando saber sobre o trecho de um poema declamado por cláudio marzo no filme o Homem Nu.É também de autoria de Fernando Sabino? ele consta no livro? Essa informação é para minha monografia.
aqui vai o trecho:
"povo do Rio de Janeiro, aqui estou eu, um homem cheio de ilusões que ainda acredita numas tantas coisas, que ainda se nega a ver a realidade. Abaixo o folclore - coisa mais chata- agora é que eu vou começar. Povo da minha cidade! Eu vos conclamo à minha imaginação