
REFLEXÕES DE RELIGIOSIDADE
Cristian Luis HruschkaPERGUNTARAM-ME SE ACREDITO EM DEUS, Rubem Alves, Ed. Planeta, 2007, 176 p.
Psicanalista, educador e autor de diversos livros infantis e sobre religião, Rubem Alves é ainda cronista do jornal Folha de São Paulo. Em seus recentes textos destaca-se a discussão que levantou a respeito da eutanásia: “A vida só pode ser medida por batidas do coração ou ondas elétricas. Como um instrumento musical, a vida só vale a pena ser vivida enquanto o corpo for capaz de produzir música, ainda que seja a de um simples sorriso. Admitamos, para efeito de argumentação, que a vida é dada por Deus e que somente Deus tem o direito de tirá-la. Qualquer intervenção mecânica ou química que tenha por objetivo fazer com que a vida dê o seu acorde final seria pecado, assassinato.” (Folha, 08.01.2008, pág. C2).
Em outro artigo, no mesmo jornal, Rubem Alves destaca: “Muitos dos ‘recursos heróicos’ para manter vivo um paciente são, no meu ponto de vista, uma violência ao princípio da ‘reverência pela vida’. Porque, se os médicos dessem ouvidos ao pedido que a vida está fazendo, a ouviriam dizer: ‘Sou um pássaro engaiolado. Abram a porta! Deixem-me voar livre pelos ares!'” (Folha, 22.01.2008, pág. C2).
Seu posicionamento rendeu cartas inflamadas ao jornal, sendo ampliado o debate pelo poeta e ensaísta Antônio Cícero: “Os defensores da eutanásia são às vezes acusados de fazerem parte de uma ‘cultura da morte’. Trata-se de uma lamentável e deliberada confusão. A morte é, concretamente, o processo de morrer. Esse processo pode ser rápido ou lento. O direito à eutanásia é o direito que aquele que está a morrer tem de abreviar a sua morte, caso esteja sendo excessivamente sofrida. Abreviar a morte é torna-la mais curta, menor, mais leve.” (Folha, 26.01.2008, pág. E9).
No seu livro “Perguntaram-me se acredito em Deus”, Rubem Alves volta a nos levar à reflexão. Doutor em teologia, o livro parafraseia diversas passagens bíblicas narradas pela personagem “Mestre Benjamim”, um cidadão que não se diz crente em Deus mas que é procurado em sua tenda por diversas pessoas que lhe solicitam conselhos e explicações sobre os mais variados temas, como esperança, paz, felicidade, inveja e sabedoria. Com peculiar delicadeza, quando instado a falar sobre Deus, Mestre Benjamim assim disse: “O ar é nossa vida e não precisamos pensar nele e nem dizer o seu nome para que ele nos dê vida. Mas o homem que se afoga no fundo das águas só pensa no ar. Deus é assim. Não é preciso pensar nele e pronunciar o seu nome. Ao contrário, quando se pensa nele o tempo todo é porque está se afogando…”
Mestre Benjamim possui em suas mãos uma arma importante, um livro de poesias, mas um livro diferente dos demais, um livro “onde se encontram todos os poemas que se escreveram no passado, todos os poemas que estão sendo escritos, todos os poemas que serão escritos no futuro”.
É citando poetas e parábolas que Mestre Benjamim cativa a todos, filosofando e incutindo nas pessoas que o cercam a obrigação de pensarem, de procurarem compreender a mensagem que é transmitida pelo contador de estórias.
Não se pode classificar o livro como sendo de auto-estima, mas sim de reflexão. Um livro que nos coloca a pensar sobre cada palavra escrita, um livro que nos faz refletir sobre nossa religiosidade e fé.
Em edição bem cuidada, este “Perguntaram-me se acredito em Deus” instiga nossos posicionamentos e valores pessoais, quanto mais se apresentados por um dos grandes intelectuais de nosso país, ainda que sob a batuta de “Mestre Benjamim”.
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CRISTIAN LUIS HRUSCHKA, responsável pelo site www.resenhas-literarias.blogspot.com.br. É autor do livro "Na Linha da Loucura", publicado em 2014 pela editora Minarete/Legere (www.facebook.com.br/nalinhadaloucura). E-mail: clhadv@hotmail.com
Importante texto, vou fazer um seminario na faculdade sobre Rubens Alves do livro: Perguntaram-me se acredito em Deus.
ResponderExcluirclareou-me o meu pensamento de como abordar o pensamento do Filosofo.