Cristian
Luis Hruschka
MARCH,
William. Menina Má, Rio de Janeiro: DarkSide Books, 2016, 272 páginas
(Tradução: Simone Campos).
Publicado
em abril de 1954, Menina Má alcançou sucesso na época e inspirou a
escrita de diversos autores de suspense contemporâneos devido aos recursos
utilizados. Seu autor, porém, pouco pode aproveitar da fama,
falecendo no mês seguinte à publicação do livro.
William
March (William Edward Campell – 1983/1954), teve um vida bastante peculiar.
Elaine Showalter, responsável pela introdução da edição de 1997, destacou que “a
vida adulta de March com certeza mostrou sinais de perversão, talvez até de
trauma. Ele nunca se casou e nem se conhece qualquer relacionamento seu com
alguma mulher. Além disso, teve dois colapsos psicológicos severos e, a
despeito do sucesso nos negócios e de algum reconhecimento literário, tornou-se
cada vez mais excêntrico, isolado e obcecado por sexualidade e crime.” (págs.
12/13).
Mesmo
diante de tantos problemas, em Menina Má, sua obra de referência, merece
destaque a imersão que faz na conduta de duas mulheres, Christine Penmark e sua
filha Rhoda. A menina, como se pode depreender do título do livro, mantém uma
vida normal para um criança de nove anos, buscando carinho na mãe e sendo muito
querida por aqueles que a cercam, porém, quando deseja algo que não lhe pode
ser entregue, não mede esforços para conseguir, ainda que para isso tenha que
tirar algumas pessoas da frente.
Ainda
que não seja responsável pelas mortes, a principal protagonista do livro é Christine,
uma mulher que vive sozinha em razão do trabalho do marido em cidade distante, e cuida da sua filha com dedicação e zelo, mesmo após ter conhecimento do que
a filha fez. Depois de obter de Rhoda a confissão, passa a lidar com o instinto de
proteção maternal e o senso de Justiça, aspecto muito bem abordado pelo autor.
Contudo, como todo bom livro de suspense, uma grande reviravolta muda sua
postura e, ao saber do seu passado, passa a temer que a maldade da filha tenha origem
hereditária.
Essa
questão sempre foi muito abordada no campo da psicologia e na área jurídica se questiona
se há uma predisposição genética para a maldade. É sabido que o contexto social
onde o indivíduo está inserido molda seu comportamento e, por vezes, pode levá-lo
a cometer atrocidades, contudo, será que existe um “gene da maldade” adormecido que pode ser despertado?
A neurociência
busca encontrar respostas para essa pergunta. O psiquiatra britânico Adrian
Raine, para tentar encontrar justificativas, está desenvolvendo a chamada neurocriminologia,
uma disciplina que “envolve a aplicação de técnicas da neurociência para
entender as causas do crime.”. Segundo ele, em entrevista concedida à revista
VEJA, “tentamos juntar tudo que aprendemos nos últimos anos — na genética,
técnicas de imagem cerebral, neuroquímica, psicofisiologia e neurocognição —
para explicar porque algumas pessoas crescem para se tornar criminosos
violentos.”[i].
Cesare
Lambroso, médico italiano, em 1870 escreveu que a maldade está nos traços
físicos do indivíduo, entre eles a mandíbula grande, os olhos profundos e até
mesmo as orelhas em forma de punho. Logicamente que essa teoria foi descartada,
porém, permanece a dúvida em saber se a maldade pode ser herdada geneticamente.
A menina
má de March, Rhoda, tem os traços característicos de um psicopata. Não possui
remorso algum pelas suas vítimas. É fria e calculista, dissimulada e planeja
suas ações, ainda que conte com menos de 10 anos de idade. Esses fatores
dissociam o psicopata do sociopata, visto que a maldade deste tem origem em
fatores sociais, traumas, abusos e problemas de socialização, ao passo que
aquele pode, sim, ter origem genética.
Para a
Bíblia, porém, não existe possibilidade de que o mal seja herdado: “A alma
que pecar, essa morrerá, o filho não levará a maldade do pai, nem o pai a
maldade do filho” (Ez 18:20)
Dentro
de todo esse contexto, Christine se sentia culpada em passar para a filha uma herança
que estava adormecida, “mas voltara a aflorar com sede de destruição. Sabendo
disso, como poderia culpar a filha? Como responsabilizá-la? Quanto mais sua
pobre mente perturbada se debruçava sobre a questão, mais óbvia sua culpa lhe
parecia, e ela ficava se repetindo: ‘Ah, que vergonha. Que vergonha.’”
(pág. 211).
Uma
coisa é certa, Christine precisava dar um fim em tudo isso. A forma escolhida,
porém, você só vai descobrir lendo o livro. Faça isso! Não irá se arrepender.
Por fim, vale destacar a bela edição da DarkSide, com capa fantástica elaborada pela empresa Retina 78.
CRISTIAN LUIS
HRUSCHKA, professor e advogado. É autor do livro
"Na Linha da Loucura", editora Minarete/Legere
(www.facebook.com.br/nalinhadaloucura). E-mail: clhadv@hotmail.com.
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