
Cristian Luis Hruschka
JORGE, Fernando. Drummond e o Elefante Geraldão, São Paulo: Novo Século, 2012, 174p.
Fernando Jorge é privilegiado. Em tempos de escassez literária e intelectual, teve o prazer de conviver com os maiores nomes da escrita brasileira, entre eles o admirável Carlos Drummond de Andrade, poeta mineiro de Itabira, seu filho mais ilustre.
No livro Drummond e o Elefante Geraldão, publicado pela Ed. Novo Século em 2012, que somente agora chegou em minhas mãos, temos a satisfação de conviver um pouquinho com uma das mentes mais brilhantes deste país. Não se trata de uma biografia, especialidade de Fernando Jorge, mas relatos lançados em livro de momentos que viveram juntos. Fernando Jorge frequentou a casa de Drummond, com ele conviveu e trocou muitas palavras, sempre anotando os detalhes para nos presentear com um livro repleto de peculiaridades e particularidades do poeta.
Com sua conhecida capacidade de absorver informações, Fernando Jorge apresenta um Drummond caseiro e reservado, como todo bom mineiro. Consta no livro que em certa oportunidade, questionado por Fernando Sabino, outro gigante escritor das Alterosas, o poeta assim respondeu ao ser perguntado como o pai mineiro deve dar conselhos ao seu filho:
"- Meu filho, preste atenção. Se você sair de casa, não se esqueça de pegar o guarda-chuva, mas não leve muito dinheiro. E ao levá-lo, não entre em qualquer lugar. Mas se entrar num lugar confiável, não o desperdice. E se for beber cerveja num bar, junto de um amigo, não se exceda no álcool. E não fale alto, para não chamar a atenção. E após os dois beberem sobriamente, quando o barman apresentar a conta, verifique se ela está certa. E se estiver certa, procure puxar a sua carteira no mesmo tempo em que o seu amigo puxar a dele. E ao pagar a conta, pague só a sua parte." (pág. 48).
Essas e outras passagens são relatadas com primazia por Fernando Jorge. As conversas trocadas entre os escritores, recheadas de vida e inteligência, mostram a riqueza da amizade e abordavam diversos assuntos como política (Drummond achava que Jânio Quadros era o Hitler do Brasil) e cinema (Drummond adorava alguns filmes de Carlitos), não apenas literatura, ainda que esse fosse o mote principal. Lendo o livro nos sentimos próximos a Drummond, como se ouvíssemos sua voz pausada e suave, sempre baixa, declamando uma de suas poesias.
A leitura de Drummond e o Elefante Geraldão é prazerosa, gostosa, um passeio divertido e repleto de novidades pela vida do poeta mineiro.
O convívio com pessoas dessa grandiosidade enobrece e motiva qualquer um a seguir adiante, especialmente no caminho espinhoso das letras. Recomendo a leitura para todos que se interessem por boa literatura, assim como indico a leitura da biografia de outro grande poeta brasileiro, "Vida e Poesia de Olavo Bilac", também de autoria de Fernando Jorge, aqui já resenhado (http://resenhas-literarias.blogspot.com.br/2009/03/resenha-vida-e-poesia-de-olavo-bilac.html).
Para quem tiver curiosidade, segue link de divulgação do livro Drummond e o Elefante Geraldão: https://www.youtube.com/watch?v=009mvjdOpqY
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CRISTIAN LUIS HRUSCHKA, responsável pelo site www.resenhas-literarias.blogspot.com.br. É autor do livro "Na Linha da Loucura", publicado em 2014 pela editora Minarete/Legere (www.facebook.com.br/nalinhadaloucura). E-mail: clhadv@hotmail.com
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