UMA VIAGEM FANTÁSTICA
Cristian Luis Hruschka

STIGGER, Veronica. Opisanie Swiata. São Paulo, Cosac Naify, 2013, 160 pág.
O livro de Veronica Stigger começa quando Natanael envia para Opalka uma carta solicitando que o venha visitar, pois, enfermo, quer conhecer seu pai antes da morte, inclusive encaminhando-lhe as passagens e dando recomendações para a viagem. Natanael, porém, vive na Amazônia e Opalka na Polônia. Essa jornada entre os continentes é relatada de forma magistral pela autora em seu novo livro, "Opisanie Swiata", lançado pela Editora Cosaf Naify e vencedor do Prêmio São Paulo de Literatura como o melhor livro de romance do ano de 2013.
Quando recebi o livro pelos Correios, minha primeira compra na Amazon, confesso que achei um tanto carregado nas ilustrações. Porém, assim que avançamos na leitura, as fotos e panfletos reproduzidos situam o leitor no tempo da narrativa e as páginas de cores diferentes contribuem na condução da trama. A história não é contada por um único narrador, havendo, em diversos capítulos, cartas que os intercalam e tornam a trama mais interessante.
Já no início da viagem Opalka conhece Bopp, brasileiro, um "tipo" muito peculiar que está regressando para sua terral natal. Bopp é um personagem fantástico. Atrapalhado e falante, une em perfeita sintonia sua inocência e a experiência adquirida em viagens pelo mundo. Não há quem não goste dele e por onde passa parece sempre deixar saudades. Ainda que Opalka tente não dar muita trela para Bopp, preocupando-se em tentar ler seu jornal, acaba rendendo-se à sua simpatia, tornando-se amigos.
Assim que entram no trem, partindo da Europa, os personagens envolvem-se em situações das mais inusitadas, cujos participantes são apresentados de maneira cadenciada e cuidadosa, como acontece com a italiana Priscila e o casal Andrade.
Quando a viagem prossegue de navio, novos contornos são adicionados à trama, como o surgimento de uma sereia: "Se não a vemos, disse o comandante, talvez possamos ouvi-la. Vamos nos concentrar para tentar sentir seu canto. Todos apuraram os ouvidos. Mas o silêncio não durou, pois as mulheres logo voltaram a protestar. Se escutassem o canto da sereia, todos se encantariam, mergulhariam nas águas e acabariam, sem nem mesmo perceber, afogados no fundo do mar" (pág. 76). Já quando estavam para cruzar a linha do Equador, avisou o comandante: "Se a passagem não for realizada com a cautela devida, corres-se o risco de a linha vir a enrodilhar na quilha ou no leme, provocando uma parada violenta da embarcação e consequentemente indesejáveis quedas da tripulação. Estejam atentos!" (pág. 98). Transpor a linha do Equador também implica em um ritual de bastimo para aqueles que estão passando essa linha imaginária pela primeira vez, outro ponto alto do livro.
É nesse ritmo mágico que a jornada de Opalka e Bopp ao Brasil vai seguindo. Cada capítulo mostra o talento da literatura da gaúcha Veronica Stigger, autora de outros livros de contos. Alguns capítulos, ainda que lidos de forma isolada, irão encantar o leitor, maravilhando-o pela criatividade e pelo cenário de realismo fantástico apresentado.
Quando chegam ao Brasil, porém, as notícias sobre o filho de Opalka não são as melhores. Esse fato o faz rememorar diversos momentos de sua estada anterior, antes de partir para a Europa com o auxílio da mãe de Nataniel a fim de salvar sua saúde, provavelmente afetada pelas doenças tropicais. Esse baú de lembranças revolve Opalka em um turbilhão de emoções, resultando num desfecho sereno e confortável, justificando o motivo da expressão "Opisanie Swiata", da língua polonesa, na tradução significar descrição do mundo.
Um livro muito agradável, não perdendo em momento algum sua coesão, sem deixar qualquer ponta solta. Vale a leitura!
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CRISTIAN LUIS HRUSCHKA, responsável pelo site www.resenhas-literarias.blogspot.com.br. É autor do livro "Na Linha da Loucura", publicado em 2014 pela editora Minarete/Legere (www.facebook.com.br/nalinhadaloucura). E-mail: clhadv@hotmail.com
Cristian Luis Hruschka

STIGGER, Veronica. Opisanie Swiata. São Paulo, Cosac Naify, 2013, 160 pág.
O livro de Veronica Stigger começa quando Natanael envia para Opalka uma carta solicitando que o venha visitar, pois, enfermo, quer conhecer seu pai antes da morte, inclusive encaminhando-lhe as passagens e dando recomendações para a viagem. Natanael, porém, vive na Amazônia e Opalka na Polônia. Essa jornada entre os continentes é relatada de forma magistral pela autora em seu novo livro, "Opisanie Swiata", lançado pela Editora Cosaf Naify e vencedor do Prêmio São Paulo de Literatura como o melhor livro de romance do ano de 2013.
Quando recebi o livro pelos Correios, minha primeira compra na Amazon, confesso que achei um tanto carregado nas ilustrações. Porém, assim que avançamos na leitura, as fotos e panfletos reproduzidos situam o leitor no tempo da narrativa e as páginas de cores diferentes contribuem na condução da trama. A história não é contada por um único narrador, havendo, em diversos capítulos, cartas que os intercalam e tornam a trama mais interessante.
Já no início da viagem Opalka conhece Bopp, brasileiro, um "tipo" muito peculiar que está regressando para sua terral natal. Bopp é um personagem fantástico. Atrapalhado e falante, une em perfeita sintonia sua inocência e a experiência adquirida em viagens pelo mundo. Não há quem não goste dele e por onde passa parece sempre deixar saudades. Ainda que Opalka tente não dar muita trela para Bopp, preocupando-se em tentar ler seu jornal, acaba rendendo-se à sua simpatia, tornando-se amigos.
Assim que entram no trem, partindo da Europa, os personagens envolvem-se em situações das mais inusitadas, cujos participantes são apresentados de maneira cadenciada e cuidadosa, como acontece com a italiana Priscila e o casal Andrade.
Quando a viagem prossegue de navio, novos contornos são adicionados à trama, como o surgimento de uma sereia: "Se não a vemos, disse o comandante, talvez possamos ouvi-la. Vamos nos concentrar para tentar sentir seu canto. Todos apuraram os ouvidos. Mas o silêncio não durou, pois as mulheres logo voltaram a protestar. Se escutassem o canto da sereia, todos se encantariam, mergulhariam nas águas e acabariam, sem nem mesmo perceber, afogados no fundo do mar" (pág. 76). Já quando estavam para cruzar a linha do Equador, avisou o comandante: "Se a passagem não for realizada com a cautela devida, corres-se o risco de a linha vir a enrodilhar na quilha ou no leme, provocando uma parada violenta da embarcação e consequentemente indesejáveis quedas da tripulação. Estejam atentos!" (pág. 98). Transpor a linha do Equador também implica em um ritual de bastimo para aqueles que estão passando essa linha imaginária pela primeira vez, outro ponto alto do livro.
É nesse ritmo mágico que a jornada de Opalka e Bopp ao Brasil vai seguindo. Cada capítulo mostra o talento da literatura da gaúcha Veronica Stigger, autora de outros livros de contos. Alguns capítulos, ainda que lidos de forma isolada, irão encantar o leitor, maravilhando-o pela criatividade e pelo cenário de realismo fantástico apresentado.
Quando chegam ao Brasil, porém, as notícias sobre o filho de Opalka não são as melhores. Esse fato o faz rememorar diversos momentos de sua estada anterior, antes de partir para a Europa com o auxílio da mãe de Nataniel a fim de salvar sua saúde, provavelmente afetada pelas doenças tropicais. Esse baú de lembranças revolve Opalka em um turbilhão de emoções, resultando num desfecho sereno e confortável, justificando o motivo da expressão "Opisanie Swiata", da língua polonesa, na tradução significar descrição do mundo.
Um livro muito agradável, não perdendo em momento algum sua coesão, sem deixar qualquer ponta solta. Vale a leitura!
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CRISTIAN LUIS HRUSCHKA, responsável pelo site www.resenhas-literarias.blogspot.com.br. É autor do livro "Na Linha da Loucura", publicado em 2014 pela editora Minarete/Legere (www.facebook.com.br/nalinhadaloucura). E-mail: clhadv@hotmail.com
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