POESIA PERTURBADORA

Cristian Luis Hruschka
LADEIA, André Luis Cosme. Suave como a Morte, Guaratinguetá: Ed. Penalux, 2014, 120 pág.
Há tempos venho pensando sobre o que escrever de Suave como a Morte, livro de estreia do poeta carioca, radicado em Minas Gerais, André Ladeia. Assim que o recebi iniciei a leitura. No primeiro poema já percebi que seria um livro perturbador:
"Quando nasci
A morte
Veio me visitar
E me presenteou
Com seu relógio negro
O coveiro que fez me parto
Me benzeu
E depois
Começou a prepara minha lápide
As bailarinas dançavam
Com a morte
Ao som de uma música lúgubre
Os sinos badalaram
Para comemorar o início
Do meu enterro" (pág. 21)
O poema inicial, sem dúvida o melhor de todos, nos leva a indagar sobre a existência do homem. Nascemos com a hora da morte marcada? Durante essa curta existência terrena nossos passos já estão traçados? Será que a vida é a festa da morte?
Ainda que a morte seja um tema recorrente aos poetas, a poesia de André Ladeia nos leva a inúmeras reflexões. Em uma escrita limpa e objetiva, faz o leitor pensar, provocando-o, porém, respeitando-o. Nesse sentido, o poema "Sono Profundo" informa que somente a morte pode despertar o homem "Do seu sono / letárgico e profundo // Somente ela / para fazê-lo / se sentir / mais / Vivo" (pág. 30).
Fernando Pessoa, senhor dos poetas da língua portuguesa, já dizia que "o próprio viver é morrer, porque não temos um dia a mais na nossa vida que não tenhamos, nisso, um dia a menos nela". Como deixar despercebido, portanto, que morte nos persegue durante toda a vida. Que sua foice está sobre nossas cabeças pronta para ceifar-nos a existência ao primeiro deslize. A poesia de André Ladeia nos faz meditar sobre essas e outras questões.
Percebo ainda nos versos de Ladeia, uma inspiração em Augusto do Anjos, cuja poesia está ligada de forma íntima ao tema, em especial a melancolia, que anda de mãos dadas com a morte. O segundo terceto do soneto "Vozes de um Túmulo" do poeta paraibano é um exemplo claro disso: "A pirâmide real do meu orgulho / Hoje que apenas sou matéria e entulho / Tenho consciência de que nada sou!". Já para Ladeia, independente da condição do indivíduo, de seu sucesso ou fracasso, da sua soberba ou desvaidade, "Para esta vivo / basta sofrer // Não tem mistério: / é mais simples / do que a morte." ("Viver", pág. 75).
O livro de André Ladeia nos deixa inquietos. Que venha o próximo!
__________________
CRISTIAN LUIS HRUSCHKA, responsável pelo site www.resenhas-literarias.blogspot.com.br. É autor do livro "Na Linha da Loucura", publicado em 2014 pela editora Minarete/Legere (www.facebook.com.br/nalinhadaloucura). E-mail: clhadv@hotmail.com

Cristian Luis Hruschka
LADEIA, André Luis Cosme. Suave como a Morte, Guaratinguetá: Ed. Penalux, 2014, 120 pág.
Há tempos venho pensando sobre o que escrever de Suave como a Morte, livro de estreia do poeta carioca, radicado em Minas Gerais, André Ladeia. Assim que o recebi iniciei a leitura. No primeiro poema já percebi que seria um livro perturbador:
"Quando nasci
A morte
Veio me visitar
E me presenteou
Com seu relógio negro
O coveiro que fez me parto
Me benzeu
E depois
Começou a prepara minha lápide
As bailarinas dançavam
Com a morte
Ao som de uma música lúgubre
Os sinos badalaram
Para comemorar o início
Do meu enterro" (pág. 21)
O poema inicial, sem dúvida o melhor de todos, nos leva a indagar sobre a existência do homem. Nascemos com a hora da morte marcada? Durante essa curta existência terrena nossos passos já estão traçados? Será que a vida é a festa da morte?
Ainda que a morte seja um tema recorrente aos poetas, a poesia de André Ladeia nos leva a inúmeras reflexões. Em uma escrita limpa e objetiva, faz o leitor pensar, provocando-o, porém, respeitando-o. Nesse sentido, o poema "Sono Profundo" informa que somente a morte pode despertar o homem "Do seu sono / letárgico e profundo // Somente ela / para fazê-lo / se sentir / mais / Vivo" (pág. 30).
Fernando Pessoa, senhor dos poetas da língua portuguesa, já dizia que "o próprio viver é morrer, porque não temos um dia a mais na nossa vida que não tenhamos, nisso, um dia a menos nela". Como deixar despercebido, portanto, que morte nos persegue durante toda a vida. Que sua foice está sobre nossas cabeças pronta para ceifar-nos a existência ao primeiro deslize. A poesia de André Ladeia nos faz meditar sobre essas e outras questões.
Percebo ainda nos versos de Ladeia, uma inspiração em Augusto do Anjos, cuja poesia está ligada de forma íntima ao tema, em especial a melancolia, que anda de mãos dadas com a morte. O segundo terceto do soneto "Vozes de um Túmulo" do poeta paraibano é um exemplo claro disso: "A pirâmide real do meu orgulho / Hoje que apenas sou matéria e entulho / Tenho consciência de que nada sou!". Já para Ladeia, independente da condição do indivíduo, de seu sucesso ou fracasso, da sua soberba ou desvaidade, "Para esta vivo / basta sofrer // Não tem mistério: / é mais simples / do que a morte." ("Viver", pág. 75).
O livro de André Ladeia nos deixa inquietos. Que venha o próximo!
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CRISTIAN LUIS HRUSCHKA, responsável pelo site www.resenhas-literarias.blogspot.com.br. É autor do livro "Na Linha da Loucura", publicado em 2014 pela editora Minarete/Legere (www.facebook.com.br/nalinhadaloucura). E-mail: clhadv@hotmail.com
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