
Cristian Luis Hruschka
LUCCHESI, Marco. O Bibliotecário do Imperador, São Paulo: Ed. Globo, 2013, 112 p.
Marco Lucchesi é integrante da Academia Brasileira de Letras desde 2011. Tradutor, poeta e romancista, conhecedor de mais de vinte idiomas, possui vida acadêmica refinada, sendo doutor em literatura e pós-doutor em filosofia pela Universidade de Colônia (Alemanha). É, ainda, professor de literatura comparada na UFRJ e Fiocruz, contudo, em que pese seu brilhante currículo, na opinião deste mero leitor (jamais crítico), seu último livro, "O Bibliotecário do Imperador", não empolga.
Apaixonado por livros, Marco Lucchesi é um dos maiores entusiastas da Biblioteca Nacional, não medindo esforços para enaltecê-la. Graduado em história, Lucchesi se destaca no trabalho de editoração e pesquisa junto a Biblioteca, porém, seu amor pelos livros é representado de uma forma bastante prolixa se imaginarmos que pretende demonstrá-lo através de "O Bibliotecário do Imperador".
A trama conta (ou procura contar) a história do bibliotecário Inácio Augusto César Raposo, responsável pela Biblioteca do Imperador D. Pedro II, que por ocasião da Proclamação da República, passa seus últimos anos de vida no exílio na Europa. No livro existem passagens de grande beleza, como "Haverá terapia que atenda às necessidades primárias dos colecionadores de livros, dos que se enamoram do objeto, das partes acessórias ou acidentais?" (pág. 45), ou ainda "Nada mais incerto e heterogêneo, precipitado e fugaz, poderoso e descontínuo do que uma biblioteca, seja ela qual for e onde quer que se constitua" (pág. 55), porém, no contexto da trama, se apresentam como reflexões do próprio autor (não do biografado - Inácio Raposo) sobre seu amor aos livros e não guardam, necessariamente, relação com o enredo, em que pese se estar falando da biografia do guardião da biblioteca do Imperador.
No enredo, além do narrador existe um revisor, que surge já no primeiro capítulo e coloca em xeque diversos pontos do livro durante a leitura. Ao final, o próprio autor, Marco Lucchesi, aparece como interlocutor do biografado, que em 1890, um ano após a República, coloca fim à própria vida atirando-se "debaixo das rodas do trem" após ter que entregar as chaves da biblioteca petrina aos novos governantes. Após este diálogo surreal, surgem os melhores trechos do livro, aqueles que precedem a morte de Inácio Raposo:
"Com a entrega das chaves, Inácio teria de passar do exílio da biblioteca a outro menos simbólico e duradouro. Despede-se do Jardim, como quem se prepara a um sono profundo, após sofrer as leis inflexíveis da insônia. Será uma noite sem término. Os anjos do fim do mundo irão tapar seus ouvidos, apiedados, para que não desperte com a trombetas do Dia do Juízo" (pág. 107).
"O Bibliotecário do Imperador" está entre os indicados ao prestigiado Prêmio Portugal Telecom 2014 de literatura.
__________________
CRISTIAN LUIS HRUSCHKA, responsável pelo site www.resenhas-literarias.blogspot.com.br. É autor do livro "Na Linha da Loucura", publicado em 2014 pela editora Minarete/Legere (www.facebook.com.br/nalinhadaloucura). E-mail: clhadv@hotmail.com
Comentario convincente
ResponderExcluir