MANUAL IRREVERENTE
NEWMAN, Sandra. História da literatura ocidental sem as partes chatas: um guia irreverente para ler os clássicos sem medo. São Paulo: Cultrix, 2014, 400 pág., tradução de Ana Tiemi Missato Cipolla e Marcelo Brandão.
Recém lançado pela Editora Cultrix, o livro de Sandra Newman não é para ser lido de forma contínua, servindo, como diz o subtítulo, de guia para conhecer um pouco da obra de parte dos escritores ocidentais. Não acredite o leitor, também, que se trata de todo o ocidente, pois o livro está focado nos autores de língua inglesa, com algumas exceções, entre elas os russos e Miguel de Cervantes. Falando no criador do "Cavalheiro da Triste Figura", é um dos poucos poupados pela verve da autora, sendo bem avaliado nos quesitos de importância, acessibilidade e diversão.
O livro não apresenta um resumo das mais importantes obras, porém, pode ser utilizado como um roteiro para que o leitor não perca tempo com algumas delas. Livros como Ulisses, de James Joyce, cuja história se passa em um único dia (16.06.1904), são de leitura tortuosa e complexa, exigindo muita concentração e paciência. Mesmo cultuado pela crítica como um dos melhores romances já escritos, poucas pessoas o leram na íntegra, eu, confesso, não conheço ninguém. Já Retrato do Artista Quando Jovem, "não forçará seu cérebro a criar conexões neurais completamente novas quando estiver lutando para compreendê-lo" e "ao contrário das obras posteriores de Joyce, você não tem que carregar outro livro que explique o livro que você está lendo" (pág. 358).
Já com relação a obra máxima de Marcel Proust, Em Busca do Tempo Perdido, informa Newman que a leitura do livro (sete volumes) pode levar de três meses a um ano, porém, "tudo o que se pode dizer é que o livro vai fazer daquele ano um ano melhor ". Para ela "este é um daqueles livros que desejamos que nunca termine - e, de fato, ele quase não termina de tão comprido que é. Na verdade, é mais ou menos como estar apaixonado" (pág. 370).
Nem todos, porém, são elogiados. Para a autora, as histórias de Edgar Allan Poe, famoso escritor estadunidense, "são, na melhor das hipóteses, artificiais, e devem ser tratadas como fósseis literários em uma linha evolutiva que, no decorrer do tempo, culminou em algo legível" (pág. 235). O comentário é inconveniente para com um dos maiores escritores do "romantismo sombrio", porém, seguindo o propósito do livro, se trata de um guia irreverente para a leitura dos clássicos.
Dita irreverência, aliás, fica evidente nos comentários a Ernest Hemingway, que para a autora "criou o tipo do romantismo macho, que escreve com uma mão enquanto dá uma surra em um mané como a outra. Ele caça ursos com um garfo e se sente mais à vontade numa terra de ninguém" (pág. 374). Inegável que a vida de Hemingway é quase tão boa quanto sua obra, se não for melhor, porém, os comentários lançados no livro não auxiliam na compreensão de sua obra. O mesmo vale para os comentários a Gustave Flaubert, autor de Madame Bouvary, cuja "elegância desapegada de sua mente nos dá a impressão de que Flaubert vive em uma dimensão mais pura, até que nos lembramos que ele morava com a mãe - quando não estava num bordel pegando doenças indesejáveis" (pág. 299).
Para a autora do guia os melhores livros são Anna Karenina, do russo Leon Tolstoi, inclusive superior a Guerra e Paz, e Orgulho e Preconceito, da inglesa Jane Austen, relatando que "você não precisa ser esperto para gostar de Jane Austen, nem ser muito atento, nem se preparar para fazer um exercício mental. Tudo que você precisa são olhos. Se você deixar o livro no chão, quando voltar para casa o gato estará lendo" (pág. 255).
Livro bom para leitura despreocupada e sem compromisso com uma análise apurada da obra de cada autor mencionado. Vale mesmo como guia irreverente, atingindo a finalidade para qual se propõe.
NEWMAN, Sandra. História da literatura ocidental sem as partes chatas: um guia irreverente para ler os clássicos sem medo. São Paulo: Cultrix, 2014, 400 pág., tradução de Ana Tiemi Missato Cipolla e Marcelo Brandão.
Recém lançado pela Editora Cultrix, o livro de Sandra Newman não é para ser lido de forma contínua, servindo, como diz o subtítulo, de guia para conhecer um pouco da obra de parte dos escritores ocidentais. Não acredite o leitor, também, que se trata de todo o ocidente, pois o livro está focado nos autores de língua inglesa, com algumas exceções, entre elas os russos e Miguel de Cervantes. Falando no criador do "Cavalheiro da Triste Figura", é um dos poucos poupados pela verve da autora, sendo bem avaliado nos quesitos de importância, acessibilidade e diversão.
O livro não apresenta um resumo das mais importantes obras, porém, pode ser utilizado como um roteiro para que o leitor não perca tempo com algumas delas. Livros como Ulisses, de James Joyce, cuja história se passa em um único dia (16.06.1904), são de leitura tortuosa e complexa, exigindo muita concentração e paciência. Mesmo cultuado pela crítica como um dos melhores romances já escritos, poucas pessoas o leram na íntegra, eu, confesso, não conheço ninguém. Já Retrato do Artista Quando Jovem, "não forçará seu cérebro a criar conexões neurais completamente novas quando estiver lutando para compreendê-lo" e "ao contrário das obras posteriores de Joyce, você não tem que carregar outro livro que explique o livro que você está lendo" (pág. 358).
Já com relação a obra máxima de Marcel Proust, Em Busca do Tempo Perdido, informa Newman que a leitura do livro (sete volumes) pode levar de três meses a um ano, porém, "tudo o que se pode dizer é que o livro vai fazer daquele ano um ano melhor ". Para ela "este é um daqueles livros que desejamos que nunca termine - e, de fato, ele quase não termina de tão comprido que é. Na verdade, é mais ou menos como estar apaixonado" (pág. 370).
Nem todos, porém, são elogiados. Para a autora, as histórias de Edgar Allan Poe, famoso escritor estadunidense, "são, na melhor das hipóteses, artificiais, e devem ser tratadas como fósseis literários em uma linha evolutiva que, no decorrer do tempo, culminou em algo legível" (pág. 235). O comentário é inconveniente para com um dos maiores escritores do "romantismo sombrio", porém, seguindo o propósito do livro, se trata de um guia irreverente para a leitura dos clássicos.
Dita irreverência, aliás, fica evidente nos comentários a Ernest Hemingway, que para a autora "criou o tipo do romantismo macho, que escreve com uma mão enquanto dá uma surra em um mané como a outra. Ele caça ursos com um garfo e se sente mais à vontade numa terra de ninguém" (pág. 374). Inegável que a vida de Hemingway é quase tão boa quanto sua obra, se não for melhor, porém, os comentários lançados no livro não auxiliam na compreensão de sua obra. O mesmo vale para os comentários a Gustave Flaubert, autor de Madame Bouvary, cuja "elegância desapegada de sua mente nos dá a impressão de que Flaubert vive em uma dimensão mais pura, até que nos lembramos que ele morava com a mãe - quando não estava num bordel pegando doenças indesejáveis" (pág. 299).
Para a autora do guia os melhores livros são Anna Karenina, do russo Leon Tolstoi, inclusive superior a Guerra e Paz, e Orgulho e Preconceito, da inglesa Jane Austen, relatando que "você não precisa ser esperto para gostar de Jane Austen, nem ser muito atento, nem se preparar para fazer um exercício mental. Tudo que você precisa são olhos. Se você deixar o livro no chão, quando voltar para casa o gato estará lendo" (pág. 255).
Livro bom para leitura despreocupada e sem compromisso com uma análise apurada da obra de cada autor mencionado. Vale mesmo como guia irreverente, atingindo a finalidade para qual se propõe.
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