NO TEATRO DOS ACONTECIMENTOS
REZENDE, Marcelo. Corta pra mim: os bastidores das grandes
investigações, São Paulo: Ed. Planeta, 2013, 240 páginas.
Lançado no final de 2013, o livro
de Marcelo Rezende, “Corta Pra Mim”, reúne parte da sua trajetória como
repórter investigativo. Testemunha de diversos acontecimentos da história
recente do Brasil, Marcelo entrou no jornalismo quase que por acaso. Foi
chamado por seu primo, Merival Júlio Lopes, para conhecer a redação do Jornal dos Sports, e lá acabou
auxiliando o jornalista Achilles Chiroll ao ditar nomes e resultados de jogos
de um campeonato promovido pelo jornal para que fossem datilografados. Havia um
time de várzea curiosamente chamado de Couve-flor e ao ditá-lo Marcelo falou: -
couve hífen flor. Momentos após foi chamado
para trabalhar no jornal. Contratado por um “hífen”, pois a maioria iria ditar “couve
tracinho flor”. Assim iniciava sua
carreira jornalística como repórter esportivo, área na qual trabalhou por um
bom tempo e que posteriormente lhe auxiliou em matérias importantes,
entre elas a que desmascarou o então todo poderoso Ricardo Teixeira,
ex-presidente da CBF e genro de João Havelange, presidente da FIFA, cuja
história, uma das mais destacadas de sua carreira de seus quarenta anos é narrada no livro.
Os casos narrados se
passaram durante o período em que Marcelo Rezende trabalhou para a Globo, onde
permaneceu por 23 anos. Nelas relata com detalhes parte importante de sua
atuação profissional, tendo participado de forma ativa ao auxiliar a polícia e
trazer para o grande público a reportagem no local dos fatos. Entre suas
grandes matérias, descritas com detalhes no livro, colocando o leitor dentro do
cenário dos acontecimentos como partícipe dos bastidores do trabalho
jornalístico, se destacam a viagem para a China e Estados Unidos com o propósito de investigar a pirataria de CDs, a revelação da atuação criminosa da polícia no caso da Favela
Naval, seu contato com José Rainha, líder do Movimento Sem Terra (MST), até
então um mero desconhecido, a entrevista com o Maníaco do Parque em 1998, fraudes
nas indenizações do IPVA, sua ida para o Paraguai a fim de trazer ao Brasil
os sequestradores do empresário Roberto Medina, criador do Rock in Rio, que
resultou na sua prisão no País vizinho e a batalha de interesses envolvendo uma reportagem investigativa
que demonstraria a meteórica ascensão econômica e patrimonial de Ricardo
Teixeira no período que comandava a CBF e a obtenção dos direitos de
transmissão da Copa do Mundo pela Rede Globo. Nesse caso, em particular, venceu
o jornalismo e a matéria foi ao ar em um episódio do Globo Repórter.
Sua escrita é simples e sem
rodeios. Por diversas vezes parece que estamos ouvindo o autor contar sua
história, sempre esperando seus conhecidos bordões. No livro, porém, não existe
esse sentimento de exposição gratuita da violência, a banalidade da vida humana
que é mostrada diante das câmeras, a exploração da desgraça e da pobreza para
obtenção de índices elevados de audiência. Marcelo é cuidadoso ao narrar suas
histórias, afinal, parte significativa de sua vida está nelas. Preserva sempre
suas fontes e não cansa de render elogios a diversos jornalistas com quem conviveu no período em que esteve na Globo, demonstrando-lhes gratidão até os
dias atuais.
Em 2002 passou para a RedeTV! e para
a Rede Record em 2004, onde permaneceu durante um ano tendo que sair por
interferência do presidente Lula, figura constante de suas críticas,
reconhecidamente por ele exageradas e por vezes desnecessárias, só voltando em
2008 para comandar o programa “Cidade Alerta”, líder de audiência diária na
emissora até hoje.
Durante a narrativa do texto Marcelo deixa pontas soltas em diversos momentos do livro, dando a certeza de
que suas memórias não irão parar por aqui, que ainda tem muito para contar.
Ficamos no aguardo!
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