
LUTERO E SUA REFORMA
LUTERO E A IGREJA DO PECADO, Fernando Jorge, São Paulo: Novo Século Editora, 7ª. ed., 2007, 229 pág.
Com seu brilhante talento para biografias, Fernando Jorge nos apresenta a trajetória de Martinho Lutero e suas constantes perturbações com o diabo. Ricamente ilustrado e com a peculiar habilidade do autor em recriar os locais e situações pelas quais passou o biografado.
Lutero nasceu na Alemanha, em 1483, e sofreu muito na mão de seus pais. Tornou-se monge agostiniano, mas desde cedo começou a teorizar sobre diversos dogmas e regras da igreja católica. Sua insatisfação com a igreja romana, no entanto, aumentou por ocasião de sua visita à Roma, ocasião em que pode constatar o luxo e a luxúria em que viviam o papa e diversos de seus cardeais, situação esta diametralmente oposta àquela pregada pelos padres e bispos católicos. A hipocrisia, a mentira, os gastos exagerados e a existência de papas libidinosos (como foi o caso de Alexandre VI), somada a venda de indulgências para a aquisição de valores que se destinavam a construção da monumental Basílica de São Pedro, o levaram a elaborar as noventa e cinco teses, no ano de 1517, em que questionava frontalmente diversas posturas da igreja dominante.
Como não podia deixar de acontecer, suas manifestações ganharam adeptos e passaram a incomodar a cúria romana, que passou a nominá-lo de “Monge do Diabo”, considerando-o herege e elevando o próprio tinhoso à condição de seu conselheiro.
Para o autor, “Lutero acendeu a fogueira da Reforma. No entanto, quem o ajudou a alimentar as labaredas foi a própria Igreja Católica, com os seu abusos, o seu mercantilismo, a sua insensatez, a sua venalidade. Era inegável que ele tinha grande defeitos, era um pecador contumaz, porém ela, a Igreja Católica, ostentava de modo insolente, despudorado, um enorme elenco de vícios execráveis. Assumia o ar de monja casta, mas comportava-se como a mais luxuriosa das prostitutas.”
O monge, no entanto, sempre estava às vias com o demônio, travando com ele inúmeros embates. Segundo Lutero, o demônio estava personificado no próprio Sumo-pontífice, cuja infalibilidade era questionada. Martinho ainda colocou em xeque o celibato clerical e tantos outros dogmas da igreja romana, sendo excomungado em 1521.
Com suas teses polêmicas, Matinho Lutero deu início ao Protestantismo, caracterizando-se como uma figura corajosa, uma voz de força que se ergueu durante o domínio do catolicismo, mais preocupado em angariar bens e patrimônio do que levar a palavra de Deus ao povo. Todas as afirmações de Lutero estavam amparadas na Bíblia, livro este que foi por ele traduzido para o alemão e contribuiu para unificar a língua germânica em todo o território.
Ricamente ilustrado, o livro de Fernando Jorge nos remete ao ambiente da época, sendo esta uma das maiores e melhores qualidades do autor. As biografias por ele escritas caracterizam-se pela exaustiva pesquisa, praticamente esgotando o tema. Como exemplo de sua impressionante capacidade de nos remeter ao momento histórico vivido pelo biografado, apresentamos o seguinte trecho do livro (reparem na capacidade fantástica de criar ambientes e diálogos envolvendo eventos ocorridos nos idos de 1500):
“No dia 18, o da segunda audiência, lá pelas seis horas da tarde, ele retorna à grande sala do Palácio Episcopal, toda iluminada por velas e tochas. A fumaça invadia o recinto aquecido, o calor era sufocante. E o hábito negro de Lutero formava contraste com sua palidez de tresnoitado, de ascético monge agostiniano. Murmurou, compadecido, o duque Eric de Brunswick: - Como ele deve ter sede!”
Fernando Jorge nos apresenta mais um livro de muita qualidade, seja pela escolha do biografado seja por sua prosa riquíssima, não sendo raras as vezes que precisamos nos socorrer de um bom dicionário. Aliás, o próprio Fernando Jorge é autor de cinco, sendo dois deles em co-autoria.
(Obs.: a resenha foi adicionada ao site oficial do escritor: http://www.fernandojorge.moonfruit.com/#/lutero/4520297635).
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