DESAPARECIDOS POLÍTICOS
Cristian Luis Hruschka
CHACEL, Cristina, SEU AMIGO ESTEVE AQUI: a história do desaparecido político Carlos Alberto de Freitas, assassinado na Casa da Morte, Rio de Janeiro: Zahar, 2012, 207 pág.
História recente do Brasil, o regime militar tem tomado as manchetes dos jornais com a propalada abertura dos arquivos militares de 1964 a 1985 através da Comissão da Verdade. Nessa onda, diversos livros estão chegando às livrarias, entre eles o excelente "Seu Amigo Esteve Aqui", da jornalista carioca Cristina Chacel.
Em minucioso trabalho de pesquisa, o livro busca contar a vida de Carlos Alberto Soares de Freitas, o Beto, cujo codinome mais conhecido era "Breno". Para tanto, vale-se do depoimento de pessoas ligadas à resistência armada e a militância estudantil e política que lutava contra o regime de exceção que se implantou no País. Amapra-se, ainda, em documentos e relatos daqueles que com ele conviveram.
Nascido em Belo Horizonte (MG), Beto rodou praticamente por todo o Brasil na tentativa de reunir forças contra o Governo Federal, controlado pela mão dura dos militares. Sujeito sempre bem asseado, bonito e gentil, lutou ao lado de pessoas que fizeram deste país uma democracia mais solidária, voltada para as classes menos favorecidas. Entre seus amigos mais fiéis estava Dilma Rousseff, atual Presidente da República, que em depoimento emocionado lembrou à autora os difíceis anos de chumbo.
O livro fala sobre as reuniões clandestinas, os aparelhos, o assalto ao cofre do "Dr. Rui", entre outros episódios que marcaram esse conturbado período, inclusive o atentado à bomba na OAB por ativistas contrários à abertura política.
"Breno" é lembrado por todos como uma liderança da resistência ao regime. Vivendo na clandestinidade por longos anos, não andava armado e tampouco era amplamente favorável à revolta armada. Defensor da doutrina socialista, esteve em Cuba com Fidel e abdicou de uma vida social e familiar para lutar por um ideal.
Aos 31 anos de idade, em 1971, simplesmente desapareceu, como se tivesse sido levado pelo vento.
A militante Inês Etienne Romeu, quando torturada brutalmente na famigerada "Casa da Morte" (local de tortura situado na cidade de Petrópolis - RJ), ouviu de um dos seus algozes a seguinte frase: - seu amigo esteve aqui! Este o único relato da possível morte de Carlos Alberto Soares de Freitas, o Beto, cujo corpo jamais foi esclarecida e muito menos o corpo encontrado.
O trabalho da jornalista Cristina Chacel é primoroso. Acompanhada dos consultores Flávia de Camargo Cavalcanti, Sérgio Emanuel Dias Campos e Sergio Soares Xavier Ferreira, durante três anos de pesquisa, reviram dados e informações até pouco tempo atrás tracadas a sete chaves.
Ainda que anistiados, torturados e torturadores, a história brasileira não pode furtar as gerações futuras de conhecerem os fatos e bastidores de um período tão recente e emblemático da construção de nossa democracia.
Assista a entrevista da autora ao repórter Edney Silvestre, em "Globo News Literatura", no link: http://globotv.globo.com/globo-news/globo-news-literatura/v/cristina-chacel-fala-de-seu-livro-seu-amigo-esteve-aqui/2235042/
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CRISTIAN LUIS HRUSCHKA, responsável pelo site www.resenhas-literarias.blogspot.com.br. É autor do livro "Na Linha da Loucura", publicado em 2014 pela editora Minarete/Legere (www.facebook.com.br/nalinhadaloucura). E-mail: clhadv@hotmail.com
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