Pular para o conteúdo principal

"O Piloto de Hitler", C. G. Sweeting

NOTAS SOBRE O DIA-A-DIA DO FÜHRER

SWEETING, C. G., O Piloto de Hitler: A vida e época de Hans Baur, São Paulo: Ed. Jardim dos Livros, 2011, 437 pág (tradução Elvira Serapicos).

O livro de Sweeting tem como mote a vida de Hans Baur, piloto da força aérea alemã e amigo pessoal de Hitler, todavia, narra com detalhes o desenrolar da segunda Guerra Mundial, o crescimento do nazismo após o término da primeira grande guerra, o envolvimento do povo alemão, a derrota dos "nazi" e o suicídio de Hitler (1889-1945) e sua amante, então esposa, Eva Braun.

Tanto Baur como Hitler lutaram na primeira Guerra Mundial, o primeiro como piloto e o segundo na condição de cabo do 16o. Regimento de Infantaria da Reserva do exército bávaro. Com a assinatura do Tratado de Versalhes, que colocou fim à primeira guerra, à Alemanha mergulhou no caos, miséria e humilhação. Nesse quadro, Hitler, líder do Partido Nacional-Socialista, surgiu como uma alternativa para a reconstrução do país, gerando emprego para a construção de estradas e material bélico, ainda que de forma clandestina face as restrições impostas pelo Tratado de Versalhes. A "Luftwaffe", nova força aérea alemã, igualmente treinava pilotos e pessoal de apoio sem o conhecimento das autoridades internacionais.

Como sua pretensão era tornar-se presidente, Hitler necessitava voar, encurtar distâncias, e para esse mister ninguém melhor que Hans Baur.

Em 25 de fevereiro de 1932, Hitler adquiriu a cidadania alemã (era austríaco, nascido em Braunau), o que lhe proporcionou concorrer a um cargo público alemão. Assim, antes mesmo de tornar-se o líder máximo da Alemanha, Hans Baur já conquistara a confiança e respeito do Führer, que lhe convidava para jantares, reuniões e, entre outros presentes,  lhe entregou sua pintura favorita, o retrato do rei Frederico, O Grande, da Prússia, de autoria de Anton Graf. Hitler ainda foi seu padrinho de casamento (primeira núpcias), enfim, mantinham estreita amizade e confiança. Baur lhe foi fiel até o último momento, inclusive após o término da II Guerra Mundial.

O livro ainda narra os fatos que antecederam os eventos da grande guerra, como a "noite das longas facas", o controle da imprensa mantido pelo governo alemão e a forte máquina propagandista do Reich.

Independente a isso, a população o considerava um grande estadista, capaz de devolver à Alemanha o orgulho e a grandeza que possuía antes da primeira Guerra Mundial.

Em razão da proximidade de Baur com o Führer, o livro menciona fatos pitorescos da personalidade e hábitos de Hitler, como o fato de ser vegetariano e não ingerir bebidas alcoólicas, Ser contra o fumo, sequer permitindo que fumassem na sua presença, tomar dois banhos por dia, jamais permitir ser visto sem paletó e gravata, gostar de levantar após as dez horas da manhã e ficar acordado até altas horas, sempre se despedindo do último convidado em jantares, ainda que as quatro ou cinco da manhã. Hitler tinha 1,75m de altura e pesava 70 Kg.

Com riqueza de detalhes o livro narra os principais episódios da Segunda Guerra Mundial, o relacionamento do Führer com seus comandantes de alta patente, como Goering, Keitel, Jodl, Himmler, Heydrich, von Ribbentrop, o indigesto Goebbels, responsável pela propaganda nazista, ente outros. Fala sobre a SS, a Gestapo, as reuniões no "Ninho da Águia", a estratégia de guerra, o Dia D, a batalha de Bastogne, o Bunker, campos de concentração, a "solução final", as tentativas de assassinato do Führer, como a "Operação Valkíria", os blefes de Hitler, a Berlim sitiada, sobre Mussolini, o pacto mútuo de não-agressão entre Hitler e Stalin, igualmente quebrado pelo alemão e que levou à completa derrota da Alemanha ante a ocupação pelas tropas russas de Berlim e o suicídio de Hitler após perceber que não havia outra saída.

Segundo relatos, Hitler havia dito ue tinha medo de ser capturado vivo e exibido em um zoológico de Moscou, temendo fim similar ao de Mussolini, que foi executado e pendurado de cabeça para baixo numa praça pública de Milão. Hitler teria dito em seus momentos finais quando estava no Bunker: "Meus generais me traíram e me venderam, meus soldados não querem mais continuar e eu não posso mais continuar!" (...) "Ficarei de pé ou cairei com Berlim. É preciso ter coragem para sofrer as consequencias dos próprios aos. Pretendo tirar minha vida ainda hoje!".

Como se percebe, até no final da vida o Fürher se mostrava midiático, porém, sem a coragem suficiente para responder por seus atos em vida, optando pela alternativa covarde de ceifar sua própria vida.

Hans Baur ainda tentou fugir ao cerco russo, porém foi capturado e permaneceu preso por longo período na prisão de Butyrka, Moscou, onde os alemães eram interrogados e torturados.

O piloto de Hitler foi julgado por um tribunal russo em maio de 1950 e condenado por assessorar os crimes cometidos contra o povo soviético e prisioneiros de guerra a uma pena de 25 anos de prisão num campo de trabalho. Em 1955, porém, teve a notícia de que seria repatriado pelo fato da URSS haver declarado o fim do estado de guerra com a Alemanha.

Retornando para Munique encontrou suas filhas e sua mãe, então com 80 anos. Havia perdido parte de uma perna e foi considerado veterano de guerra ferido, tendo direito a uma pensão vitalícia. Faleceu em 1993, aos 95 anos de idade.

Como se pode perceber, o livro é um verdadeiro mergulho na segunda Guerra Mundial, um grande manual sobre o assunto.

Comentários

Outras postagens ✓

"Mossad - Os Carrascos do Kidon", Eric Frattini

EM NOME DE ISRAEL Cristian Luis Hruschka FRATTINI, Eric. Mossad os carrascos do Kidon: a história do temível grupo de operações especiais de Israel. 1a. Ed., São Paulo: Ed. Seoman, 392 pág. Referenciado por uns e considerado por outros como sendo um grupo terrorista de Israel, o Mossad consiste no mais avançado e treinado serviço de investigação israelense. Criado em 1951, teve como proposta inicial vingar os judeus mortos durante a Segunda Guerra Mundial, aproximadamente seis milhões, e combater os inimigos de Israel em todo e qualquer lugar do planeta. O "Kidon", por sua vez, é a unidade "secreta"do Mossad, este vinculado ao Metsada, responsável pelas operações especiais de Israel. Sua norma básica de atuação é: "Não haverá matança de líderes políticos; estes devem ser tratados através dos meios políticos. Não se matará a família dos terroristas; se seus membros se puserem no caminho, não será problema nosso. Cada execução tem de ser autoriza...

"O Homem Nu", Fernando Sabino

UM POUCO DE SABINO E SUA OBRA Cristian Luis Hruschka O HOMEM NU, Fernando Sabino, 38ª. ed., Rio de Janeiro: Ed. Record, 1998, 192 p. Conheci a obra de Fernando Sabino (1923-2004), em dezembro de 2006. Até então só tinha ouvido falar de seus livros sem ter me arriscado a ler algum deles. Bendita hora em que comprei “A Faca de dois Gumes” (Ed. Record, 2005), na praia, em uma banca de revistas. Foi paixão à primeira vista, ou melhor, à primeira leitura. O livro é maravilhoso, composto das novelas “O Bom Ladrão”, “Martini Seco” e “O Outro Gume da Faca”. Uma trilogia prodigiosa que leva o leitor a duvidar do certo e do errado, colocando-o no lugar dos personagens e ao mesmo tempo censurando suas atitudes. Li o livro em uma pegada. Dias após retornei à mesma banca de revistas para comprar “O Encontro Marcado”, livro mais importante da obra de Fernando Sabino, traduzido para diversos idiomas pelo mundo afora e que já ultrapassa a 80ª. edição aqui no Brasil. Não tinha mais jeito,...

"Opisanie Swiata", Veronica Stigger

UMA VIAGEM FANTÁSTICA Cristian Luis Hruschka STIGGER, Veronica. Opisanie Swiata. São Paulo, Cosac Naify, 2013, 160 pág. O livro de Veronica Stigger começa quando Natanael envia para Opalka uma carta solicitando que o venha visitar, pois, enfermo, quer conhecer seu pai antes da morte, inclusive encaminhando-lhe as passagens e dando recomendações para a viagem. Natanael, porém, vive na Amazônia e Opalka na Polônia. Essa jornada entre os continentes é relatada de forma magistral pela autora em seu novo livro, "Opisanie Swiata", lançado pela Editora Cosaf Naify e vencedor do Prêmio São Paulo de Literatura como o melhor livro de romance do ano de 2013. Quando recebi o livro pelos Correios, minha primeira compra na Amazon, confesso que achei um tanto carregado nas ilustrações. Porém, assim que avançamos na leitura, as fotos e panfletos reproduzidos situam o leitor no tempo da narrativa e as páginas de cores diferentes contribuem na condução da trama. A história não é contad...

"A Vida Real", Fernando Sabino

SABINO EM SONHO A VIDA REAL, Fernando Sabino, 2ª. ed., Rio de Janeiro: Editora do Autor, 1963, 209 pág. Acabo de ler "A Vida Real", do escritor mineiro, morto em 2004, Fernando Sabino. Meu exemplar, particularmente, é guardado com carinho. Adquirido em um sebo, é o livro nº. 3975 da 2ª. edição (out/1963) - a primeira teve apenas 500 exemplares e foi lançada em 1952, quatro anos após Sabino regressar ao Brasil de Nova York (dessa permanência resultou o livro "A Cidade Vazia"). "A Vida Real" é composta de cinco novelas, tendo como tema central "a emoção vivida durante o sono". Diferente do que ocorre em diversos outros de seus livros, Fernando Sabino não procura narrar situações do cotidiano, optando por abordar questões subjetivas e dramas pessoais passados pelas personagens. O estilo claro, limpo e objetivo, característico dos textos de Sabino está presente, garatindo uma leitura agradável e ágil. Vale a leitura para conhecer um outro lado do aut...

"Onde os velhos não têm vez", Cormac McCarthy

SANGUE E VIOLÊNCIA NA FRONTEIRA Cristian Luis Hruschka   McCARTHY, Cormac. Onde os velhos não têm vez , 2ª ed., Rio de Janeiro: Alfaguara, 2023, 229 páginas (Tradução: Adriana Lisboa).   Visceral! Lançado em 2005, o romance “Onde os velhos não têm vez”, de Cormac McCarthy, é violento, direto e sensacional. Falecido em junho de 2023, McCarthy é considerado um dos maiores escritores norte-americanos dos últimos tempos. Ficou conhecido por romances com alto grau de violência e economia de detalhes. O livro “Onde os velhos não têm vez”, reeditado pela Ed. Alfaguara, é prova disso. Ambientado no Texas, na divisa com o México, a trama avança com velocidade, narrando a fuga de Llwelyn Moss (veterano do Vietnã) do “carniceiro” Anton Chigurh, o qual, por sua vez, é perseguido pelo xerife Ed Tom Bell, já com certa idade e desanimado com o aumento da violência na região. Tudo começa quando Moss, durante uma caçada na região árida próxima ao México, se depara com o resul...

"Guia Literário para Machos", Caléu

LETRAS FRATURADAS Cristian Luis Hruschka MORAES, Caléu Nilson. Guia Literário para Machos , Florianópolis: Ed. UFSC, 2017, 117 pág. Catarinense da pequena cidade de Santa Cecília, Caléu nos apresenta um livro desconfortante. É que os contos que integram “Guia Literário para Machos” deixam o leitor incomodado, perplexo pela linguagem direta e vulgar, mas animado para continuar com a leitura e acompanhar a saga sexual do personagem narrador. “Guia Literário...” foi vencedor do Prêmio Silveira de Souza 2015, promovido pela Editora da Universidade Federal de Santa Catarina, e certamente mexeu com os jurados. Já no primeiro conto (“Poeta Viado”) se verifica a agressividade do estilo de Caléu, usando e abusando de palavrões e narrativas sexuais que deixariam Christian Grey e seus 50 Tons de Cinza passarem vergonha por muito tempo. Aliás, perto das situações (posições!) descritas por Caléu, E. L. James não passa de uma ginasiana. O escritor Carlos Henrique Schroeder, resp...

"Jeito de Matar Lagartas", Antônio Carlos Viana

ACIDEZ PARA A MATURIDADE Cristian Luis Hruschka VIANA, Antônio Carlos. Jeito de Matar Lagartas, Rio de Janeiro: Cia. das Letras, 2015, 168 páginas. O gênero conto está retornando ao gosto da leitura dos brasileiros. Esquecido por alguns anos, o País penou nesse campo literário, com poucos autores de qualidade. Entre eles está o sergipano Antônio Carlos Viana, autor de "Jeito de Matar Lagartas", lançado em 2015 pela Companhia das Letras. Famoso pelos seus livros anteriores, em especial "Cine Privê" (2009) e "Aberto está o Inferno" (2004), o escritor representa o que há de melhor no conto literário nacional. Com linguagem objetiva, frases bem construídas e o uso apurado das palavras, utilizadas de maneira precisa, sem carregar o texto, a leitura se torna rápida e prazerosa. Estes são, aliás, os objetivos dos contistas, que procuram reunir num texto reduzido elementos como introdução, por meio da apresentação dos personagens, tempo e lugar, desen...

"Geração do Deserto", Guido Wilmar Sassi

A SAGA DOS PELADOS Cristian Luis Hruschka GERAÇÃO DO DESERTO, Guido Wilmar Sassi, Porto Alegre: Ed. Movimento, 1982, 175 pág. Em nova incursão ao sebo (garimpando, garimpando…), encontrei uma pérola da literatura catarinense. Escrito por Guido Wilmar Sassi (1922/2003), e tendo sua primeira edição em 1964, “Geração do Deserto” se apresenta como uma das mais importantes obras de nosso cenário literário. De forma romanceada, o autor aborda na narrativa a conhecida Guerra do Contestado, evento ocorrido entre 1912 e 1916, envolvendo aproximadamente 20 mil caboclos (pelados), contra as forças constituídas do Governo Federal e Estadual (peludos). A batalha recebeu esse nome por ter sido travada na região de disputa territorial entre os Estados do Paraná e Santa Catarina, sendo que cidades como Caçador, Lages e Canoinhas (SC), ainda guardam vestígios do conflito. Com linguagem regionalista e objetiva, o autor nos apresenta a personagens como Boca Rica, Mané Rengo, Liveira, Rica...

"Einstein no Espaço-Tempo", Samuel Graydon

BREVE HISTÓRIA DE UM GÊNIO Cristian Luis Hruschka GRAYDON, Samuel. Einstein no Espaço-Tempo: a vida de um gênio em 99 partículas , Rio de Janeiro: Sextante, 2024, 304 páginas (Tradução: André Fontenelle).   “Eu quero minha paz. Quero saber como Deus criou o mundo. Não estou interessado neste ou naquele fenômeno, no espectro disto ou no elemento daquilo. Quero saber o que Ele pensa, o resto são detalhes” (Albert Einstein)   Muito já se escreveu sobre o gênio da física e dificilmente alguma biografia conseguirá esmiuçar de maneira detalhada toda a vida de Albert Einstein (1879-1955). O livro de Samuel Graydon certamente não tem essa pretensão, porém, apresenta uma viagem deliciosa sobre a jornada desse importante cientista. O livro é dividido em 99 capítulos curtos e objetivos, que não respeitam, necessariamente, uma ordem cronológica definida. Contudo, como não poderia ser diferente, começam com o nascimento e crescimento de Einstein, assim como seu difícil iní...

"Depois do Último Trem", Josué Guimarães

LITERATURA RECOMENDADA Cristian Luis Hruschka GUIMARÃES, Josué. Depois do Último Trem, 2a. ed., Porto Alegre: Ed. L & PM, 1979, 141 pág. O Estado do Rio Grande do Sul sempre apresentou ótimos escritores. Érico Veríssimo na prosa e Mário Quintana na poesia, com certeza os maiores representantes. Outros estão meio esquecidos, mas suas obras não podem ser deixadas de lado. Josué Guimarães é um deles. Nascido na cidade de São Jerônimo (RS), teve uma vida movimentada. Trabalhou em diversos jornais de âmbito nacional, sendo perseguido durante o regime militar, quando esteve na clandestinidade escrevendo por meio de pseudônimos. Falecido em 1986, deixou um grande número de obras, adultas e infantis. Seus livros de maior expressão são "Enquanto a noite não chega", reconhecido pela crítica como obra máxima, "Dona Anja", "Tambores Silenciosos" e "Camilo Mortágua". Lembrei de seu nome quando estava lendo o artigo do Alberto Mussa no suplemento ...