Pular para o conteúdo principal

"Charles Darwin: A Revolução da Evolução", Rebecca Stefoff


DARWIN E SUA TEORIA DA EVOLUÇÃO


CHARLES DARWIN: A REVOLUÇÃO DA EVOLUÇÃO, Rebecca Stefoff, São Paulo: Ed. Cia. das Letras, 2007, 127 pág.


O livro conta a vida do autor da teoria da evolução, Charles Darwin. Nascido em uma família abastada, na cidade de Shrewsbury, Inglaterra, em 12 de fevereiro de 1809, desde o início da vida já se mostrava curioso pelas criaturas que habitavam nosso planeta. Com apenas vinte e dois anos embarcou no navio Beagle, capitaneado por Robert FitzRoy, e saiu pelas américas. Foi nessa viagem que conheceu as famosas Ilhas Galápagos e pode dar início ao estudo da teoria que o tornaria conhecido pela eternidade.

Fez inúmeras anotações da vida dos habitantes daquele arquipélago e ao retornar para a Europa formulou ao longo de 20 anos a conhecida teoria da evolução das espécies.

Sua tese abalou os alicerces que existiam na sociedade da época, profundamente cristã e que acreditava de forma copiosa na versão bíblica da Criação. Darwin, no entanto, fundamentava seus argumentos em observações, análises, leituras e conclusões baseadas em geologia, anatomia, botânica e zoologia que podem ser assim reunidas:

- a história da terra tem testemunhos de milhares de anos;
- as espécies são mutáveis ou sujeitas a mudanças;
- ocorrem variações quando populações são isoladas da espécie original;
- os ambientes global e local mudam continuamente; os seres vivos têm de se adaptar às condições que mudam;
- os organismos individuais nascem com ligeiras variações;
- características dos organismos são herdadas por seus descendentes;
- a vida é uma luta pela sobrevivência.

Referidas constatações podem amoldarem-se aos dias atuais, sendo que o ser humano está em constante evolução.

Como não podia deixar de ser sua teoria suscitou grande discussão, tendo encontrado nos religiosos as maiores resistencias. Para eles “falar em evolução ameaçava a autoridade moral da Igreja, que era uma força política além de espiritual. Aos olhos de muitos, a difusão de tais idéias era um perigo, pois poderia destruir a ordem social.”

Haviam, no entanto, defensores fervorosos de sua tese, entre eles Thomas Henry Huxley, carinhosamente apelidado de “buldogue de Darwin”.

Já quanto a discutida origem dos seres humanos, em suas anotações e correspondência privada, Darwin menciona ser evidente a noção de que “todos os seres vivos, inclusive os humanos, haviam evoluído de um ancestral comum, e que ele reconhecia os macacos antropóides e os símios como os parentes mais próximos do homem.” Porém, segundo narra a autora do livro, em Origem das Espécies Darwin não alardou essa idéia. Na verdade demonstrou muita cautela e “apenas predisse que no futuro, conforme prosseguissem as pesquisas sobre a evolução, seria ‘esclarecida a origem do homem e sua história’”. Posteriormente, quando escreveu A origem do homem e a seleção natural (1871), esclareceu que “os humanos evoluíram de ancestrais distantes semelhantes aos macacos antropóides e não, como muitos erroneamente acreditavam, dos grandes macacos e símios hoje existentes.”

Charles Darwin morreu em 19 de abril de 1882, em sua cama, de uma doença cardíaca que já o acompanhava por anos. Foi sepultado com honras na abadia de Westminster, em que pese a resistência da Igreja anglicana à sua teoria. Escreveu diversos livros, teve filhos e amou sua mulher Emma Wedgwood. Seu legado até hoje é discutido e as rusgas entre os fundamentalistas, também chamados de criacionistas, para quem a “vida foi criada por um milagre”, e os evolucionistas, seguidores da tese darwiniana, ainda persistem.

Para a Rebecca Stefoff, no entanto, o confronto de idéias ainda continuará, posto que “o darwinismo simplesmente explica a vida como um processo natural, que não requer intervenção sobrenatural ou divina. Não diz que Deus não existe; afirma tão-somente que Deus não é uma parte necessária da história da vida. No que diz respeito a ciência evolucionista, Deus pode existir ou não.”

A edição de “A revolução da evolução”, além de ricamente ilustrada, ainda acompanha um glossário com termos como “gene”, “nicho ecológico”, “seleção natural”, bem como recomendação de vasta leitura complementar.

Comentários

  1. nossa como a nossa origem veio do macaco derepente mas ai surge a prgunta quem crou o macaco?????

    ResponderExcluir

Postar um comentário

Outras postagens ✓

"O Homem Nu", Fernando Sabino

UM POUCO DE SABINO E SUA OBRA Cristian Luis Hruschka O HOMEM NU, Fernando Sabino, 38ª. ed., Rio de Janeiro: Ed. Record, 1998, 192 p. Conheci a obra de Fernando Sabino (1923-2004), em dezembro de 2006. Até então só tinha ouvido falar de seus livros sem ter me arriscado a ler algum deles. Bendita hora em que comprei “A Faca de dois Gumes” (Ed. Record, 2005), na praia, em uma banca de revistas. Foi paixão à primeira vista, ou melhor, à primeira leitura. O livro é maravilhoso, composto das novelas “O Bom Ladrão”, “Martini Seco” e “O Outro Gume da Faca”. Uma trilogia prodigiosa que leva o leitor a duvidar do certo e do errado, colocando-o no lugar dos personagens e ao mesmo tempo censurando suas atitudes. Li o livro em uma pegada. Dias após retornei à mesma banca de revistas para comprar “O Encontro Marcado”, livro mais importante da obra de Fernando Sabino, traduzido para diversos idiomas pelo mundo afora e que já ultrapassa a 80ª. edição aqui no Brasil. Não tinha mais jeito,...

"Onde os velhos não têm vez", Cormac McCarthy

SANGUE E VIOLÊNCIA NA FRONTEIRA Cristian Luis Hruschka   McCARTHY, Cormac. Onde os velhos não têm vez , 2ª ed., Rio de Janeiro: Alfaguara, 2023, 229 páginas (Tradução: Adriana Lisboa).   Visceral! Lançado em 2005, o romance “Onde os velhos não têm vez”, de Cormac McCarthy, é violento, direto e sensacional. Falecido em junho de 2023, McCarthy é considerado um dos maiores escritores norte-americanos dos últimos tempos. Ficou conhecido por romances com alto grau de violência e economia de detalhes. O livro “Onde os velhos não têm vez”, reeditado pela Ed. Alfaguara, é prova disso. Ambientado no Texas, na divisa com o México, a trama avança com velocidade, narrando a fuga de Llwelyn Moss (veterano do Vietnã) do “carniceiro” Anton Chigurh, o qual, por sua vez, é perseguido pelo xerife Ed Tom Bell, já com certa idade e desanimado com o aumento da violência na região. Tudo começa quando Moss, durante uma caçada na região árida próxima ao México, se depara com o resul...

"O Alienista", Machado de Assis

O ALIENISTA EM QUADRINHOS Cristian Luis Hruschka O ALIENISTA, Machado de Assis, adaptado por César Lobo (arte) e Luiz Antonio Aguiar (roteiro), São Paulo: Ática, 2008, 72 pág. (Clássicos Brasileiros em HQ). “A loucura, objeto de meus estudos, era até agora uma ilha perdida no oceano da razão; começo a suspeitar que é um continente”. (Machado de Assis, “O Alienista”). O ano que passou foi considerado o “Ano de Machado de Assis”, homenagem ao escritor brasileiro por força do centenário de sua morte ocorrida em 29 de setembro de 1908. À guisa de diversas homenagens, muito se falou e comentou à respeito, inclusive no segmento das histórias em quadrinhos. Nessa senda, o trabalho realizado por César Lobo e Luiz Antonio Aguiar, este profundo conhecedor da obra do Bruxo do Cosme Velho (tendo publicado em 2008 o “Almanaque Machado de Assis” – Ed. Record), merece destaque. Em exemplar primoroso, os autores adaptaram a novela “O Alienista”, um dos melhores trabalhos...

"Ontem à Noite era Sexta-feira", Roberto Drummond

PASSEIO POR BH Cristian Luis Hruschka DRUMMOND, Roberto. Ontem à noite era sexta-feira, 4a. ed., Rio de Janeiro: Ed. Guanabara, 1988, 210 p. O teólogo holandês Erasmo de Roterdã disse: "quando tenho algum dinheiro, compro livros. Se ainda me sobrar algum, compro roupas e comida" . Nos dias atuais essa expressão pode ser quase levada ao pé da letra quando visitamos os diversos sebos que existem pelo Brasil. Neles é possível garimpar livros muito interessantes e há tempo fora de catálogo. Bom frequentador desses locais, perdendo horas vasculhando as estantes, ao trocar créditos recebidos em um sebo por outros livros, encontrei "Ontem à noite era sexta-feira", de Roberto Drummond. Ler Drummond é sempre uma satisfação. Na linha dos bons escritores mineiros, tal como Fernando Sabino e Oswaldo França Júnior, possui uma escrita rápida, simples e profunda, qualidades literárias somente alcançadas com muito esforço. Sabino, em sua famosa entrevista ao programa Roda Vi...

"Relato de um Náufrago", Gabriel Garcia Márquez

NAUFRÁGIO NO CARIBE Cristian Luis Hruschka GARCIA MÁRQUEZ, Gabriel. Relato de um Náufrago, 18a. ed., Rio de Janeiro: Record, 1994, 134  pág. Tradução: Remy Gorga, filho. Ler Garcia Márquez é sempre um prazer. De tempos em tempos precisamos pegá-lo para incluir qualidade em nossas leituras. Pena ter nos deixado em 2014, aos 84 anos de idade. Prêmio Nobel da Literatura em 1982, o escritor colombiano tem no livro "Cem Anos de Solidão" sua obra-prima, porém, "O Relato de um Náufrago" e "Crônica de uma Morte Anunciada", livros curtos, merecem destaque no conjunto de sua obra. O que mais me impressiona em Garcia Márquez é sua capacidade de manter um ritmo constante durante todo o livro. A velocidade que imprime na narrativa deixa o leitor preso ao texto, ansioso para saber quais serão os próximos desdobramentos da trama. Em "Relato de um Náufrago" é contado o naufrágio do destróier Caldas, da Marinha Mercante da Colômbia, que desaparece durant...

"Perguntaram-me se Acredito em Deus", Rubem Alves

REFLEXÕES DE RELIGIOSIDADE Cristian Luis Hruschka PERGUNTARAM-ME SE ACREDITO EM DEUS, Rubem Alves, Ed. Planeta, 2007, 176 p. Psicanalista, educador e autor de diversos livros infantis e sobre religião, Rubem Alves é ainda cronista do jornal Folha de São Paulo. Em seus recentes textos destaca-se a discussão que levantou a respeito da eutanásia: “A vida só pode ser medida por batidas do coração ou ondas elétricas. Como um instrumento musical, a vida só vale a pena ser vivida enquanto o corpo for capaz de produzir música, ainda que seja a de um simples sorriso. Admitamos, para efeito de argumentação, que a vida é dada por Deus e que somente Deus tem o direito de tirá-la. Qualquer intervenção mecânica ou química que tenha por objetivo fazer com que a vida dê o seu acorde final seria pecado, assassinato.” (Folha, 08.01.2008, pág. C2). Em outro artigo, no mesmo jornal, Rubem Alves destaca: “Muitos dos ‘recursos heróicos’ para manter vivo um paciente são, no meu ponto de vista, um...

"À Sombra do Meu Irmão", Uwe Timm

HERANÇA MALDITA Cristian Luis Hruschka TIMM, Uwe. À Sombra do Meu Irmão: as marcas do nazismo e do pós-guerra na história de uma família alemã. Porto Alegre: Dublinenses, 2014, 160 pág. (Tradução: Gerson Roberto Neumann e Willian Radünz) Escrito por um dos autores alemães mais traduzidos nos últimos anos, À sombra do meu irmão conta parte da história da Segunda Guerra Mundial vista pelo outro lado, ou seja, dos perdedores. Ainda pequeno, o autor presenciou seu irmão Karl-Heinz alistar-se voluntariamente no exército nazista e partir para o confronto armado. Como soldado da Waffen-SS, foi morto na Ucrânia, em 1943. Posteriormente encaminharam para sua mãe o diário que o filho escrevia no front. Partindo dos relatos lançados no livro, Uwe Timm apresenta aos leitores a trajetória de uma família alemã marcada pela derrota, pela humilhação. Após a ocupação pelos aliados, a Alemanha foi retalhada. Berlim restou dividida entre os soviéticos (setor oriental), franceses, britânicos e am...

"O Vermelho e o Negro", Stendhal

VIDA E MORTE DE UM ELEGANTE CAMPONÊS Cristian Luis Hruschka STENDHAL. O Vermelho e o Negro, Porto Alegre: Ed. Dublinenses, 2016, 544p. Tradução: Raquel Prado (edição especial encomendada pela TAG para seus associados) Não vou entrar em detalhes críticos, acadêmicos ou políticos. Tudo já foi dito de "O Vermelho e o Negro", livro maior do escritor francês Stendhal. Publicado em 1830, Le Rouge et le Noir conta a breve vida de Julien Sorel, camponês pobre do interior da França que busca projeção na sociedade. Para tanto, socorre-se de sua beleza e inteligência e desde cedo começa a trabalhar como preceptor dos filhos do Sr. de Rênal, pessoa influente na sociedade local. Sorel, personagem muito interessante, logo conquista todos com sua polidez e habilidade nas letras. Tendo decorado a Bíblia, não demora para atrair todos os olhares para si, inclusive da Sra. de Rênal, com quem passa a envolver-se em segredo. Esse relacionamento amoroso é muito sutil, não havendo no li...

"1989: O Ano que Mudou o Mundo", Michael Meyer

RAZÕES PARA A QUEDA DA EUROPA COMUNISTA MEYER, Michael, 1989: O ANO QUE MUDOU O MUNDO: a verdadeira história da queda do muro de Berlim, Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2009, 247 pág., tradução de Pedro Maia Soares. No final de 2011 estive com minha esposa, Patrícia, em Berlim, capital da Alemanha. Ficamos na parte oriental, anteriormente ocupada pelos soviéticos e que ainda guarda muitas lembranças daquele período. Essa proximidade com a história me despertou o interesse, já aguçado, de conhecer as razões e motivos da queda do comunismo na Europa Oriental. Com o término da Segunda Guerra Mundial a cidade de Berlim estava praticamente destruída. Prédios históricos, igrejas e monumentos devastados, existindo até hoje marcas desse conflito que tanto chocou o mundo. A queda do Reich, por sua vez, causou a divisão da capital alemã, sendo que a metade oriental ficou com os soviéticos, que haviam devastado Berlim vindo de Moscou, e a outra metade (ocidental) foi dividida entre os paí...

"O Útimo Homem Branco", Mohsin Hamid

PROMETE MAS NÃO ENTREGA Cristian Luis Hruschka   HAMID, Mohsin. O Último Homem Branco , São Paulo: Companhia das Letras, 2023, 134 páginas (Tradução: José Geraldo Couto).   Lançado em 2022, o livro de Mohsin Hamid foi recebido como um sucesso de crítica. Nascido no Paquistão, o escritor já viveu na Califórnia, Nova Iorque e Londres, sendo colaborador de jornais como The New York Times e Washington Post. O livro conta a história de Anders, um homem branco que, em certa manhã, ao acordar, “descobriu que tinha adquirido uma profunda e inegável tonalidade marron”. A temática proposta é muito inteligente e gera controvérsias das mais variadas, principalmente quanto à intolerância racial. Escrito de maneira arrastada, o livro não prende o leitor e, na minha singela opinião, assim segue até o final. A ideia de abordar uma questão tão importante, com grande clamor social e por muitos tida como apavorante por colocar em xeque a “supremacia do homem branco”, que estaria ...