
O PAPA ESLAVO
UMA VIDA COM KAROL, Stanislaw Dziwisz e Gian Franco Svidercoschi, Rio de Janeiro: Ed. Objetiva, 2007, 262 pág.
Quantos acontecimentos não teria presenciado o secretário particular de um Papa? Parte dessas lembranças são apresentadas pelo jornalista Gian Franco Svidercoschi, que acompanha os acontecimentos no Vaticano por quase cinqüenta anos, e especialmente por Stanislaw Dziwisz, aluno da cadeira de moral, ministrada por Karol Wojtyla no seminário de Cracóvia, Polônia, e que foi seu fiel escudeiro praticamente durante toda a vida.
Ordenado cardeal por Bento XVI, em março de 2006, Dziwisz acompanhou as lutas do então arcebispo Wojtyla contra o governo polonês, comunista, que impunha limites à liberdade e manifestações religiosas. A autoridade vigente pregava um estado laico, tendo na igreja católica um opositor contra seu regime de governo. A população, no entanto, se mostrava cansada desse sistema e cada vez mais se aproximava da igreja, defensora do homem e de seus direitos, especialmente o de liberdade.
Nomeado cardeal em 1967, Karol Wojtyla defendia as minorias contra o regime comunista polonês, participando da construção de igrejas após a II Guerra Mundial e lutando contra a ordem de fechamento dos seminários.
No livro, Dziwisz relata as dificuldades encontradas pelo futuro Papa na Polônia, sua tristeza pela destruição do País e sua luta contra o regime comunista, que procurava controlar a instrução dos futuros sacerdotes voltando-os para a ideologia marxista. Grande foi a habilidade de Wojtyla para driblar essas barreiras, sempre com estilo conciliador e pacífico.
Outra característica peculiar do então Cardeal Wojtyla, que passaria a identificá-lo no futuro, diz respeito às suas constantes viagens. O Cardeal viajava muito, Américas, Ásia, Europa, Oceania e África, visitando comunidades polonesas que se dispersaram pelo planeta após a segunda grande guerra. Era sempre convidado para palestrar, conferenciar e discursar. Tinha uma agenda lotada e ao retornar para Roma era costumeiramente recebido pelo então Papa Paulo VI, que o respeitava pela espiritualidade, coragem apostólica, formação, cultura, serenidade de espírito e fidelidade à igreja católica.
Em 1978 Karol Wojtyla se tornou Papa. Escolheu o nome de João Paulo II, sucedendo Albino Luciani (João Paulo I). Após longo domínio italiano (455 anos), foi eleito o primeiro Papa eslavo. Iniciava com ele uma nova fase da igreja católica, uma fase de transição, de mudança, de globalização.
João Paulo II era carismático, moderno e comunicativo. De inteligência privilegiada, propagou aos quatro cantos as bases da nova igreja. O primeiro país a ser visitado foi o México, ainda em 1979.
O livro também relata o atentado sofrido por João Paulo II em 1981, no Vaticano. Naquela ocasião o Santo Padre foi alvejado por dois tiros, o primeiro no abdômen e o segundo no cotovelo direito, de raspão, que acabou por fraturar o indicador da mão esquerda. O atirador, Mehmet Ali Agca, turco, utilizou uma Browning 9mm, e jamais pediu perdão ao Papa, ainda que o tenha recebido em 27/12/1983.
Lutando sempre contra regimes totalitários, especialmente aqueles que fomentavam o ateísmo, João Paulo II acompanhou a queda do muro de Berlim e recebeu Gorbachev no Vaticano. Era contra o aborto, pregava a união familiar e a “unidade cristã” – em especial com a igreja ortodoxa. Foi o primeiro Papa a entrar numa sinagoga, peregrinou pela Terra Santa e visitou o Muro das Lamentações. Vivenciou o atentado às torres gêmeas e tentou evitar a guerra no Iraque. Nesse particular se nota pela biografia que a Igreja Católica não exerce mais o poder que mantinha sobre os líderes mundiais. Bush não lhe deu ouvidos e avançou sobre a terra de Saddam Hussein.
No fim, a mensagem que prevalece é positiva. João Paulo II tornou a cúria universal, reuniu bispos de todo o mundo e tinha a Santa Sé como a sede toda a igreja. Estava sempre preocupado com a questão social e suas viagens pelo mundo serviram para expor as mazelas da população, dos continentes mais pobres e necessitados, tendo um carinho especial para com a América Latina.
João Paulo II teve o terceiro mais longo pontificado (26 anos). Faleceu em 02 de abril de 2005, no Vaticano, com saúde muito debilitada e após longa e silenciosa batalha contra o Mal de Parkinson. Conforme dizia sempre à sua amiga Madre Teresa, a santidade consistia simplesmente em cumprir todo o dia a vontade de Deus.
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